sábado, 15 de setembro de 2012

Bife e batatas fritas

Chove em Munique quando o avião levanta. Felizmente o tempo melhora e passada uma hora já se vê o sol. E terra, abaixo de nós. A rota para Madrid faz-me sobrevoar os Alpes, primeiro, os Pirinéus, depois.

Não tenho lugar junto à janela e não posso apreciar plenamente a espectacularidade das montanhas cujos picos estão cobertos de neve. 

Penso no Ciclismo, de que sou fã, sobretudo quando mete alta montanha.Penso nos ciclistas e em todos os esforços e sacrifícios que fazem para subir aquelas montanhas. Penso também em Joaquim Agostinho, que continuo a considerar como a grande referência do ciclismo português, mesmo se morreu há quase 30 anos. Penso em toda a sua força e que, ainda assim, foi apanhado várias vezes nas malhas do doping.

Lembro-me de que, nas primeiras vezes, ele negou ter tomado o que quer que fosse de ilegal. Depois, perguntava: “E sou só eu? Então e os outros?”. Por fim já dizia, como reposta a quem o acusava de se ter dopado: “Vão lá vocês, subir aquelas montanhas a comer um bife e batatas fritas, ver se conseguem!...”

Tenho poucas dúvidas sobre a existência de doping generalizado no ciclismo. Não é possível, como dizia o Joaquim Agostinho, subir aquelas montanhas a comer um bife com batatas fritas.

A questão é que uns são apanhados. Outros não. E quem não é apanhado é porque consegue fugir melhor aos “vampiros”, normalmente através de produtos maquilhadores, cuja investigação anda sempre mais depressa do que a do combate ao próprio doping. A prova de que o combate ao doping falha é dada de cada vez que alguém é apanhado.

Por isso penso que o recurso ao doping deveria ser despenalizado. Não haver penalização é apenas uma questão de transparência. Se todos tomassem sem medo de ser apanhados, todos tomariam por certo as mesmas coisas. E aí ganhavam sempre os melhores, a coisa era limpa, desportivamente mais correta.

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