Não tenho lugar junto à janela e não posso apreciar plenamente a espectacularidade das montanhas cujos picos estão cobertos de
neve.
Penso no Ciclismo, de que sou fã, sobretudo quando mete alta montanha.Penso nos ciclistas e em todos os esforços e sacrifícios que fazem para subir
aquelas montanhas. Penso também em Joaquim Agostinho, que continuo a considerar
como a grande referência do ciclismo português, mesmo se morreu há quase 30 anos. Penso em toda a sua força e que, ainda assim, foi apanhado várias vezes
nas malhas do doping.
Lembro-me de que, nas primeiras vezes, ele negou ter tomado
o que quer que fosse de ilegal. Depois, perguntava: “E sou só eu? Então e os
outros?”. Por fim já dizia, como reposta a quem o acusava de se ter dopado:
“Vão lá vocês, subir aquelas montanhas a comer um bife e batatas fritas, ver se conseguem!...”
Tenho poucas dúvidas sobre a existência de doping
generalizado no ciclismo. Não é possível, como dizia o Joaquim Agostinho, subir
aquelas montanhas a comer um bife com batatas fritas.
A questão é que uns são apanhados. Outros não. E quem não é
apanhado é porque consegue fugir melhor aos “vampiros”, normalmente através de
produtos maquilhadores, cuja investigação anda sempre mais depressa do que a do
combate ao próprio doping. A prova de que o combate ao doping falha é dada de cada vez que alguém é apanhado.
Por isso penso que o recurso ao doping deveria ser despenalizado.
Não haver penalização é apenas uma questão de transparência. Se todos tomassem
sem medo de ser apanhados, todos tomariam por certo as mesmas coisas. E aí
ganhavam sempre os melhores, a coisa era limpa, desportivamente mais correta.
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