A direção do Beira-Mar anunciou hoje a contratação de um
novo treinador, que substituirá Jorge Neves, um homem da casa, em funções desde
o início da temporada. Embora siga a realidade do clube
aveirense à distância, parece-me que se trata de uma decisão inesperada. E injusta.
É verdade que os resultados alcançados até agora pela equipa
não permitem ilusões quanto ao regresso imediato à I Liga, afinal aquilo que os
seus adeptos mais desejariam no plano desportivo. Mas será bom lembrar todas as
dificuldades que o clube teve no início da época para formar o seu plantel,
fruto dos problemas financeiros que, nos últimos anos, têm sido praticamente uma
constante.
Foi, pois, num contexto extraordinariamente adverso que Jorge
Neves “pegou” na equipa. É que, além das dificuldades financeiras, o Beira-Mar tem
vivido em permanente convulsão interna, com guerras permanentes entre clube e
SAD. Apesar disso, pelo menos até ao momento, o Beira-Mar está longe dos
lugares de descida – sendo que, neste época, só deverá descer uma equipa.
Quando falta disputar 15 jogos, os auri-negros encontram-se
no 15º lugar. Com 12 pontos de atraso relativamente ao último clube em posição
de subida, não é de crer que venha a intrometer-se na luta pela ascensão à I
Liga. Por outro lado, tem também 12 pontos de vantagem relativamente ao lanterna
vermelha, o único em posição de descida, e deve estar, portanto, ao abrigo de
dores de barriga nas últimas jornadas.
Mas, se já não deve subir nem tão pouco descer, porquê mudar
de treinador, promovendo a chegada de um técnico estrangeiro de quem Jorge
Neves – pasme-se – será adjunto? Daniele Fortunato é italiano e não deve estar minimamente
identificado com a realidade do clube. Quanto tempo demorará para conhecer o
plantel – só tem o dia de amanhã para o “retocar”, reforçando-o – e extrair
dele mais do que Jorge Neves?
Estou longe de saber o que pensam os sócios do clube –
afinal os principais interessados. Mas receio que se passe no Beira-Mar aquilo por
que está aparentemente a passar o Olhanense (e é apenas um exemplo entre
outros), onde a SAD faz o que quer e está a marimbar-se para os sócios, adeptos e simpatizantes.
Uma coisa é certa: no meu clube não quero SADs. Quero que
continue a ser dos “sócios” e não de quaisquer investidores mais ou menos
anónimos, que apresentam contos de fadas que muitas vezes terminam mal.