quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Contos de fadas que acabam mal

A direção do Beira-Mar anunciou hoje a contratação de um novo treinador, que substituirá Jorge Neves, um homem da casa, em funções desde o início da temporada. Embora siga a realidade do clube aveirense à distância, parece-me que se trata de uma decisão inesperada. E injusta.

É verdade que os resultados alcançados até agora pela equipa não permitem ilusões quanto ao regresso imediato à I Liga, afinal aquilo que os seus adeptos mais desejariam no plano desportivo. Mas será bom lembrar todas as dificuldades que o clube teve no início da época para formar o seu plantel, fruto dos problemas financeiros que, nos últimos anos, têm sido praticamente uma constante.

Foi, pois, num contexto extraordinariamente adverso que Jorge Neves “pegou” na equipa. É que, além das dificuldades financeiras, o Beira-Mar tem vivido em permanente convulsão interna, com guerras permanentes entre clube e SAD. Apesar disso, pelo menos até ao momento, o Beira-Mar está longe dos lugares de descida – sendo que, neste época, só deverá descer uma equipa.

Quando falta disputar 15 jogos, os auri-negros encontram-se no 15º lugar. Com 12 pontos de atraso relativamente ao último clube em posição de subida, não é de crer que venha a intrometer-se na luta pela ascensão à I Liga. Por outro lado, tem também 12 pontos de vantagem relativamente ao lanterna vermelha, o único em posição de descida, e deve estar, portanto, ao abrigo de dores de barriga nas últimas jornadas.

Mas, se já não deve subir nem tão pouco descer, porquê mudar de treinador, promovendo a chegada de um técnico estrangeiro de quem Jorge Neves – pasme-se – será adjunto? Daniele Fortunato é italiano e não deve estar minimamente identificado com a realidade do clube. Quanto tempo demorará para conhecer o plantel – só tem o dia de amanhã para o “retocar”, reforçando-o – e extrair dele mais do que Jorge Neves?

Estou longe de saber o que pensam os sócios do clube – afinal os principais interessados. Mas receio que se passe no Beira-Mar aquilo por que está aparentemente a passar o Olhanense (e é apenas um exemplo entre outros), onde a SAD faz o que quer e está a marimbar-se para os sócios, adeptos e simpatizantes. 

Uma coisa é certa: no meu clube não quero SADs. Quero que continue a ser dos “sócios” e não de quaisquer investidores mais ou menos anónimos, que apresentam contos de fadas que muitas vezes terminam mal.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sem espetadores

A Taça da Brincadeira teve jogos disputados neste fim-de-semana – jogava-se o acesso às meias finais da competição. Além da polémica que se instalou por um jogo ter começado 2’48’’ depois de outro, assunto que deixamos mais para a frente, há um tema que ressalta: metade dos jogos não teve sequer um milhar de espetadores.

Em Paços de Ferreira, onde a equipa local e o Vit. Setúbal ainda lutaram por um lugar na fase seguinte, a partida teve uma assistência de menos de mil pessoas. No outro jogo do grupo, nem a visita à Covilhã do primodivisionário Rio Ave significou uma casa razoável: apenas 447 pessoas assistiram ao jogo. Em Matosinhos, os tradicionalmente aguerridos adeptos do Leixões foram pouco numerosos: cerca de 750 assistiram à vitória do Nacional. Em Aveiro, capital de distrito e uma das mais importantes cidades do País, o Beira-Mar recebeu o europeu Esoril Praia e teve uma assistência vergonhosa: 100 (cem, por extenso para que não haja dúvidas) pessoas.

As pessoas deixaram de gostar de Futebol? Claro, isso é uma evidência que só meia-dúzia de equipas e algumas competições ainda mascaram. Não está neste caso, é óbvio também, a Taça da Liga, uma prova que tarda, com claras culpas para o seu promotor (Liga de Clubes), a afirmar-se. Eis três razões fundamentais razões:

- Modelo de competição: desde há muito defendemos que em qualquer competição os competidores devem entrar, tanto quanto possível, em igualdade de circunstâncias. Isso não acontece na Taça da Liga, onde as melhores equipas são vergonhosamente beneficiadas – além de entrarem em competição mais tarde, beneficiam ainda de disputar mais jogos em casa do que fora, numa situação claramente injusta. Uma prova que seguisse o mesmo modelo da Liga dos Campeões seria o mais indicado, com uma eliminatória prévia, uma fase de grupos (a duas voltas) e jogos a eliminar. 

- Prestígio: quanto vale a Taça da Liga? Que benefícios, práticos ou teóricos, representa para quem a ganha? Muito poucos. A atribuição direta de um lugar na Liga Europa ao vencedor da Taça da Liga faria com que a competição fosse imediatamente olhada de maneira diferente, quer pelos clubes participantes quer pelos adeptos.

- Calendário: até agora, a Taça da Liga joga-se a conta-gotas. Um jogo aqui, outro além, quase sempre a meio da semana. Seria importante que os jogos se realizassem todos na mesma data (com possível antecipação de um, para o dia anterior). O espetador e adepto ganharia identificação com a prova. Nos moldes atuais, nunca sabe quando os jogos têm lugar.

Agora a rábula dos três minutos. Não foi, evidentemente, por ter começado o seu jogo depois do Sporting ter começado o dele, que o F.C. Porto ganhou ao Marítimo e, automaticamente, qualificou-se para as meias-finais. O F.C. Porto qualificou-se porque marcou mais golos do que o Sporting. E fê-lo, com certeza, quando pôde.

Já a Liga de Clubes – sempre ela... – fica muito mal na fotografia. E nem adianta “recusar qualquer responsabilidade no atraso do jogo”. É que se não tem responsabilidade no atraso do F.C. Porto – Marítimo, deveria, pelo menos, ter previsto mecanismos para que o Penafiel – Sporting começasse à mesma hora do outro jogo em que tudo se decidia. E por certo que nem penafidelenses nem sportinguistas teriam levado a mal começar a jogar três minutos depois da hora.

Mas a Liga de Clubes é assim: de um amadorismo gritante e confrangedor. Tanto que, ao contrário do que deveria acontecer, ainda leva mais adeptos para fora dos estádios.
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Luxo dispensável

Inesperadamente, o F.C. Porto deixou sair o seu capitão. Lucho González, é consensual, já não é o jogador que apaixonou os adeptos do clube. Perdeu velocidade, talvez clarividência e objectividade e o seu Futebol tornou-se mastigado, previsível. Mas o argentino é dono de um palmarés invejável, talvez único: sem ter feito grande trabalho de pesquisa, não me lembro de nenhum outro jogador que tenha sido campeão de Portugal em todos os seis anos em que disputou a competição.

Ainda durante a sua primeira passagem pelo F.C. Porto, Lucho González ganhou o epíteto de El Comandante. A minha perceção é que a origem do nome tem a ver com a forma como jogava e fazia jogar, mas também pelas suas qualidades de liderança. Estou em crer que foi sobretudo isso, mais do que as suas caraterísticas técnicas que o guindaram à braçadeira de capitão de equipa.

Quando Lucho González deixou o F.C. Porto pela primeira vez e partiu para França, deixou saudades entre os adeptos. Tantas, que voltou passados poucos anos e foi aclamado como um herói. E, naturalmente, foi de novo campeão. 

Seria uma ironia cruel que o F.C. Porto não fosse campeão no ano em que Lucho González vai embora a meio da temporada. Ser considerado dispensável é um luxo incompreensível.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O folclore da Taça da Liga

Em seis edições, a Taça da Liga já forneceu aos adeptos de Futebol uma boa quantidade de rábulas, nem todas cómicas, que ficam na história da competição. Desde faltas de comparência, medalhas atiradas para a bancada, comemorações de vitória por duas equipas que acabavam de se defrontar num jogo a eliminar, enfim, tem havido situações para todos os gostos.

Amanhã e domingo disputam-se os jogos que determinarão os semifinalistas da edição 2013-14 e o folclore voltou a manifestar-se de maneira incompreensível e inadmissível numa prova profissional: alegando a necessidade de poupar o relvado do Estádio da Luz, o Benfica marcou a receção ao Gil Vicente para o Estádio do Restelo. O presidente gilista, António Fiúza, ele próprio uma personalidade folclórica, não gostou de saber da notícia pela Comunicação Social e ameaçou faltar ao jogo. Em comunicado, a direção do clube de Barcelos lamentou a “falta de respeito” do Benfica por não lhe ter passado cartão.

Diz o Gil Vicente que o regulamento da Taça da Liga estipula, no seu artigo sétimo, que “quando um clube esteja impedido de realizar jogos no seu estádio (…) por razões de falta de condições do terreno de jogo, será o mesmo realizado no estádio do adversário". Mesmo não sendo nós juristas, a redação do articulado é clara e não nos oferece dúvidas de interpretação: não podendo ser na Luz, o jogo deveria disputar-se em Barcelos. Só que o Benfica, a quem cabe, na situação de visitado, a organização da partida, borrifou-se para o regulamento e marcou, unilateralmente, o jogo para o Restelo. Além da “falta de respeito” que o Gil Vicente alega, somos levados a pensar que a o Benfica escolheu o estádio do Belenenses devido ao mau relacionamento entre este clube e os minhotos, na sequência do “caso Mateus”, que atitou os gilistas para a II Liga, repescando os azuis para disputarem, em seu lugar, o campeonato principal.

Mas enfim, que o Benfica queira fazer o que lhe apetece, ainda é como o outro. Que a Liga de Clubes deixe, é que já está mal. Para ajudar à festa, o organismo responsável pelo Futebol profissional em Portugal defendeu-se dizendo, à Lusa, que “aceitou alterar a receção do Benfica ao Gil Vicente, para o Estádio do Restelo, para salvaguardar os interesses dos intervenientes”. 

Fica por saber a que “interesses” e a que “intervenientes” a Liga se refere. Mas ficamos cientes de uma coisa: aparentemente, o regulamente que a própria Liga criou é contrária a esses interesses.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Uma mão cheia de mentiras

Os jornais noticiam hoje a contratação, pela Naval, de um novo treinador, Tiago Raposo. O técnico, que trabalhava no Pinhalnovense, leva consigo cinco jogadores e assumiu como missão evitar que o clube seja despromovido aos escalões regionais.

Não consigo compreender o que leva alguém a ir para o clube figueirense. Os jogadores que lá estavam foram saindo, um a um ou em grupo, alegando atrasos no pagamento dos salários. Os relatos dão conta da situação de alguns atletas cujos pais tiveram de os ir buscar para que pudessem ir passar o Natal a casa. Os jogadores estão sem dinheiro para se deslocarem de casa para os treinos e vice-versa e, muito mais dramático, fala-se de casos de fome. Tudo isto levou a que sejam apenas oito – escrevo-o por extenso, para que não haja dúvidas – os atletas ainda com contrato com a Naval.

A situação não é inédita. Nos últimos anos, casos como este têm sido recorrentes. A Figueira da Foz, queixam-se os navalistas, virou as costas ao clube. Errado: com comportamentos como este, foi o clube que virou as costas à cidade, dando-lhe uma má imagem.

Tiago Raposo saberá – saberá? – no que se meteu, tal como eu sei – sei! – uma coisa: enquanto os dirigentes da Naval forem caloteiros, não merecem outra coisa que não seja serem responsabilizados pelos seus atos. Que o clube desça de divisão é um mal menor. Pior é que continue impune um tipo de dirigente desportivo que exige vitórias aos jogadores – e treinadores e restantes funcionários do clube – sem lhes dar nada mais do que uma mão cheia de mentiras.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Comparecer, vencer e chorar


Cristiano Ronaldo está de parabéns. Pela segunda vez na carreira, arrecadou a maior distinção atribuída a futebolistas: a FIFA Ballon d'Or. Depois da vitória em 2008, enquanto jogador do Manchester United – numa altura em que FIFA e France Football tinham prémios separados – o CR7 pôde ver, final e novamente, ser-lhe feita justiça.

A campanha pela vitória do madeirense tem sido exaustiva, mas não se percebe porquê. É o próprio Cristiano Ronaldo quem, nos últimos anos, tem desvalorizado o prémio (ou quem o tem ganho), afirmando que é secundário. Mais do isso, prescindiu de marcar presença há dois anos, quando sabia que iria perder para Lionel Messi. É estranho verificar, ainda assim, que apesar da “desimportância” que dá ao galardão, o capitão português tenha “desaparecido” das votações do ano passado. Enquanto capitão da Seleção Nacional, Ronaldo tinha poder de eleger o seu Top 3 mundial. Não podia, infelizmente, votar em si próprio, pelo que na altura das votações foi o sub-capitão Bruno Alves a votar; pelo colega de Seleção, naturalmente.

Embora não o tenham dito desta forma, Ronaldo e outros têm insinuado que as votações estão viciadas para que ganhe sempre o mesmo ou, neste caso, o CR perca sempre. Por outro lado, Messi, o seu grande rival, tem sido, de há uns anos a esta parte, absolutamente dominante a nível individual e coletivo. Muitos afirmarão que o seu domínio se deve ao facto de pertencer ao Barcelona. A verdade é que o astro argentino tem já uma coleção de Bolas de Ouro, quase sempre à custa do português.

Ora, numa ano em que a atribuição é, na nossa opinião, completamente justa, Cristiano Ronaldo perdeu ontem a oportunidade de dar uma lição a muitos dos seus críticos, aos quais nos incluímos. Se não tivesse comparecido à gala de atribuição da FIFA, como há dois anos, teria mostrado a sua superioridade e que, efetivamente, não quer saber de prémios para nada. Mas não, em vez disso, compareceu, venceu e chorou.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Parabéns, Campeão

No momento em que escrevo estas linhas, Helton deve estar em pleno relvado do Estádio da Luz, a fazer o aquecimento para o clássico com o Benfica. O guarda-redes vai fazer, contra o grande rival, o seu 300º jogo oficial com a camisola do F.C. Porto. Um marco assinalável numa grande carreira que , em nove épocas ao serviço dos Dragões, permitiu ao internacional brasileiro conquistar, sete Campeonatos, quatro Taças e seis Supertaças de Portugal, além de uma Liga Europa.

Os números, mais do que quaisquer palavras, explicam a dimensão de um grande futebolista. Acontece que, além de grande profissional, Helton tem também uma personalidade absolutamente encantadora e uma enorme dimensão humana que o leva a participar em múltiplas iniciativas de solidariedade. Humilde e bem-disposto, o guarda-redes chegou a capitão do F.C. Porto (embora tendo renunciado a usar a braçadeira), posição que está reservada apenas às grandes referências do clube. Helton é isso mesmo: uma referência do F.C. Porto, patamar que alcançou com trabalho e dedicação.

Por isso lhe endereçamos daqui os parabéns. E se, do ponto de vista da simpatia clubística, nos é totalmente indiferente o resultado do clássico que está prestes a iniciar-se, por uma questão de simpatia pessoal aqui fica expresso o voto de que Helton não sofra golos no jogo que assinala o seu 300º desafio oficial com as cores do F.C. Porto.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Porca miséria

(O título é em itálico, para poder ser lido em italiano. Poderia ser Sad, Sad, Sad, também em itálico, para poder fazer-se a ligação entre a locução inglesa e a sigla de Sociedade Anónima Desportiva)

Já aqui o escrevi várias vezes: sou 100 por cento da Académica, o que, matematicamente, me deixa pouca margem para torcer por outros clubes. Claro que, entre esses outros clubes há alguns que me são “mais simpáticos” do que outros. Mas, num – pouco provável – confronto direto entre a “minha” Académica e um desses “mais simpáticos”, em que este necessitasse absolutamente de ganhar para não descer e a Académica até já nem precisasse de vencer para se sagrar Campeã, continuaria a “torcer” por uma vitória da Briosa.

Entre a meia-dúzia de outros clubes por que tenho simpatia encontra-se o Olhanense. Porquê, não sei – não tenho afinidades com Olhão, não convivo de perto com nenhum dos dirigentes, jogadores, treinador ou adeptos do clube. Ainda assim, gosto da equipa, tal como gosto do Leixões, do Vit. Setúbal, do Belenenses, do Marítimo, do Rio Ave e de mais uns quantos.

O que gosto do Olhanense é tão pouco que nem sigo atentamente o dia-a-dia do clube. Talvez por isso, fui surpreendido com a nomeação de Abel Xavier como treinador principal no início da época, e fui-o ainda mais com os resultados, afinal muito satisfatórios, que o jovem técnico conseguiu. Por isso, fiquei admirado com a sua saída e substituição por Paulo Alves, igualmente jovem, mas já com currículo.

Entre Abel Xavier e Paulo Alves, há alguns episódios tristes, como a escolha que a SAD rubro-negra fez de disputar os jogos caseiros no Estádio Algarve. A decisão levou a protestos dos sócios e simpatizantes algarvios, que, em dia de jogo, se reuniam no José Arcanjo para ouvir o relato da partida da sua equipa. Embora à distância, “sentei-me” várias vezes com eles, por solidariedade.

É muito triste, quando os adeptos se vêem despojados da sua equipa, separados dela. A SAD do Olhanense, cuja maioria de capitais é detida por interesses italianos, está a marimbar-se para os sócios do clube e para os seus adeptos. A equipa passou a ser abrigo de um sem-número de jogadores, muitos deles de qualidade muitíssimo duvidosa, colocados por agentes que se estão nas tintas para os resultados desportivos.

O Futebol é uma indústria, um negócio em que alguns ganham dinheiro. Mas continua a ser – até quando? – uma paixão para muitos mais. Na semana em que Paulo Alves foi mandado embora e chega Giuseppe Galderisi, faço votos para que os adeptos do Olhanense voltem a sorrir. Mesmo se a equipa já não é, verdadeiramente, deles.

Mancha

Tenho o maior respeito pelo professor Henrique Calisto. O técnico, que começou a sua carreira futebolística como jogador do Leixões, tem um percurso assinalável como treinador, com passagens alternadas por clubes da I e da II Liga. Boavista, Salgueiros, Sp. Braga, Penafiel, Varzim, Rio Ave, Académica e Paços de Ferreira foram alguns dos clubes por onde passou. É verdade que nem sempre os resultados foram bons, mas, por onde passou foi deixando uma imagem de profissional competente.

O meu respeito para com Henrique Calisto tem também a ver com a sua postura cívica. Muito jovem, envolveu-se em lutas estudantis contra o regime de ditadura que vigorou até ao 25 de abril. Mais tarde, interrompeu a sua actividade profissional no Futebol e assumiu a sua militância partidária. Entre outras coisas, presidiu, durante vários anos à Junta de Freguesia de Matosinhos, de onde é natural.

Após terminar o seu mandato autárquico, Calisto escolheu a Ásia para um “exilio” que durou mais de dez anos. Mais uma vez, as suas qualidades técnicas e humanas foram reconhecidas, chegando a selecionador do Vietname. Há dois anos regressou a Portugal, para salvar o Paços de Ferreira da descida de divisão.

É no Paços de Ferreira que Henrique Calisto volta a estar agora, num cenário desportivo parecido com aquele que encontrou em 2011-12. A equipa foi eliminada da Liga Europa e não conseguiu ainda liberta-se do último lugar no Campeonato. Na Taça de Portugal, foi eliminada, em sua casa, pelo Desp. Aves, no domingo.

Jaime Poulson, avançado que, no início da temporada, foi cedido pelos Castores, marcou os dois golos do Desp. Aves. Henrique Calisto reagiu mal à “traição”: “É um jogador fraco” – disse.

A eliminação, em casa e frente a um adversário de um patamar inferior, é sempre difícil de aceitar. Mas isso não justifica – apenas atenua um pouco – a deselegância de Henrique Calisto. A sua formação académica superior e o seu percurso profissional e cívico deveriam pô-lo a cobro de situações como aquela em que o professor caiu. Uma mancha que não o dignifica.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fantástico

A morte de Eusébio, no domingo, e toda e comoção que a rodeou, fez com que se atrasasse a publicação de alguns posts que, no entanto, não queremos deixar de trazer aqui. Um deles tem a ver com o desempenho de Ricardo, guarda-redes da Académica, verdadeiro especialista em defender grandes penalidades.

Já aqui falei de Ricardo, a quem dediquei um post a 15 de outubro de 2012. No dia anterior, o guarda-redes tinha catapultado a sua equipa para a fase seguinte da Taça da Liga. Recordo aqui os pormenores: na primeira mão de uma eliminatória com o Sp. Covilhã, os serranos venceram por 2-0 e comprometeram o futuro da equipa de Coimbra na competição; na segunda mão, Edinho marcou por duas vezes e levou o jogo para desempate através de grandes penalidades. A Académica venceu porque Ricardo defendeu cinco. Uma mão cheia.

No domingo, em Aveiro, frente ao Beira-Mar, para a Taça de Portugal, a Académica adiantou-se no marcador. Depois, sofreu dois penaltis e uma expulsão. Mas Ricardo estava lá e fez jus à sua fama de especialista: defendeu os dois penaltis e manteve inviolada a sua baliza.

Foi o terceiro jogo da Briosa nesta edição da Taça de Portugal. Antes já havia vencido o Belenenses, no Restelo e o Acad. Viseu, em Coimbra. Em ambos os casos, o apuramento para a eliminatória seguinte foi conseguido no desempate por grandes penalidades. Agora, Ricardo defendeu outros dois.

No final do jogo de Aveiro, juntei-me à Mancha Negra para uma vénia a Ricardo. É que, a par da palavra que encima, como título, este texto, só poderíamos referir-nos à sua proeza com uma outra palavra: chapéu!

Mustang gripado

Seria fácil jogar com as palavras e dizer que o Natal foi tempo de Quaresma. Mas não foi. Alguém deixou trabalho por fazer e o Mustang só estará disponível para integrar os convocados do F.C. Porto para o próximo jogo, contra o Benfica.

Quaresma foi a primeira aposta – única, até agora – dos Dragões para reforçar a equipa. O seu regresso foi anunciado há muito e o jogador não tardou em dar a cara e apareceu para ver jogos do clube. Oficialmente, fez o primeiro treino no dia 1 de janeiro, mas a sua contratação foi acertada ainda em novembro.

Há oito meses e meio que Quaresma não joga, devido a lesões várias e à inadaptação a um Futebol menos competitivo, como aquele que se joga no Al Ahli, do Dubai. Apesar disso, o treinador do F.C. Porto decidiu chamá-lo para o jogo com o Atlético para a Taça de Portugal. Quaresma foi convocado e desconvocado horas depois, por falta do certificado internacional para formalizar a inscrição.

O F.C. Porto venceu o Atlético por 6-0 e qualificou-se para os quartos de final da Taça de Portugal. Não precisou de Quaresma para ganhar folgadamente. Quaresma é que poderia precisar de alguns minutos para ganhar ritmo competitivo e preparar-se (num jogo a doer, embora que pouco), para ajudar a equipa nos jogos importantes, como o deste domingo, com o Benfica. No entanto, alguém deve ter-se distraído e a distração custou a inscrição atempada do jogador. Uma distracção a que os adeptos do F.C. Porto não estão habituados. Pelo contrário, a estrutura administrativa do Clube é tida como um modelo, altamente profissionalizada e, habitualmente, atenta aos mais ínfimos pormenores.

Às falhas no campo, da exclusiva responsabilidade da equipa técnica e dos jogadores, soma-se agora esta falha de “gestão administrativa”. Se calhar, o F.C. Porto já não é o que era.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pata na poça no funeral de Eusébio

Enquanto símbolo maior de Portugal, Eusébio foi utilizado como nenhum outro pelo antigo regime. Nesse particular, só Amália Rodrigues esteve perto do patamar a que o Estado Novo alcandorou o Pantera Negra.

Tal como antes do 25 de abril, também o atual regime utilizou a imagem de Eusébio após a sua morte. As cerimónias fúnebres prolongaram-se uma quase eternidade e, nos momentos mais marcantes, lá estava, sempre, uma “alta individualidade”: O Presidente da República, a Presidente da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro, sozinhos ou em conjunto, mais do que “estar lá”, não perderam a oportunidade para proferir palavras a glorificar o antigo jogador do Benfica e da Seleção portuguesa de cada vez que a Comunicação Social lhes pedia.

Enquanto herói de um povo, Eusébio merece todos os elogios – não merece é que se sirvam dele. Veja-se o caso do luto nacional que o Governo declarou “oficialmente”. O Executivo esqueceu que o luto de um Povo não se decreta. Sente-se.

No meio da enorme comoção, duas pessoas puseram a “pata da poça”: Assunção Esteves e Mário Soares. O antigo Presidente da República, a quem a avançada idade não deve desculpar tudo, referiu-se a Eusébio como uma pessoa “sem cultura” e que “bebia muito whisky”. É de lamentar que uma figura tão culta como o Dr. Mário Soares não se tenha lembrado de mais nada para dizer. A não ser, claro, que ele próprio não estivesse sóbrio.

Quanto a Assunção Esteves, nem a idade serve de explicação para a tolice. É verdade que a presidente da Assembleia da República até já está reformada (recebe, diz a Imprensa, uma reforma mensal de 7,255 euros por dez anos de trabalho como juíza do Tribunal Constitucional), mas tem apenas 57 anos. Interrogada sobre a possibilidade de os restos mortais de Eusébio irem para o Panteão Nacional, a eminente senhora hesitou, inflacionou os números, e disse que era preciso pensar muito bem nisso porque essa possibilidade exigia despesas na ordem das “centenas de milhares de euros”. Ora, os custos de transladação podem nem chegar aos 50 mil euros. No caso de Esteves, pode ter sido a reforma a toldar-lhe as ideias.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Mácula

Eusébio passou hoje pelo Estádio da Luz, cumprindo-se a sua última vontade pública. A cerimónia de despedida foi sóbria, como se impunha, e emotiva, como se previa que acontecesse. Até que alguém, de mau gosto, resolveu tocar o Hino do Benfica.

Como ontem aqui escrevi, falar de Eusébio como benfiquista é reduzi-lo a uma dimensão que ele ultrapassou largamente. O Pantera Negra gozou, em vida, de uma universalidade que desde ontem lhe foi plenamente reconhecida. Basta ver o número de adeptos de outros clubes que se deslocaram ao Estádio da Luz para lhe prestar a última homenagem ou do número de cachecóis de outros clubes, além do Benfica, que foram colocados junto à sua estátua.

A mácula que poderia ter sido o Hino do Benfica na cerimónia do adeus a Eusébio foi rapidamente corrigida: o Povo, na sua humilde sabedoria, contrariou o protocolo e entoou, espontaneamente, o Hino de Portugal.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sempre eterno, Eusébio é Portugal

As palavras em título, que nos limitámos a “arranjar”, colando-as, foram proferidas por Cristiano Ronaldo e por José Mourinho, que, nos últimos anos, são os principais baluartes portugueses no Futebol mundial. Não sendo nossas, dizem tudo quanto poderíamos dizer no dia em que Eusébio partiu sem nos dizer adeus.

Do Pantera Negra, tenho duas recordações importantes: por um lado temia-o quando defrontava o meu clube; mas, esse temor era superado pela admiração que se nutre pelos verdadeiros génios. Essa genialidade, associada à humildade que o acompanhou durante toda a vida explica a universalidade de Eusébio, uma figura respeitada – mais do que isso, querida – por benfiquistas e adversários. Falar dele como benfiquista seria reduzi-lo a uma dimensão que Eusébio ultrapassou largamente.

É nesse quadro de “universalidade” que sinto a perda de Eusébio. Reconforta-me a certeza de que Luís de Camões, Fernando Pessoa, Joaquim Agostinho, José Afonso e Amália Rodrigues ficaram um bocadinho mais “apertados” no estreito patamar reservado aos portugueses imortais.