terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Os melhores portugueses de 2013


Será fácil eleger o ciclista Rui Costa e o futebolista Cristiano Ronaldo como desportistas portugueses do ano. Escolher apenas um de entre eles é que será mais complicado…

Da mesma maneira que já aqui assumi por diversas vezes não ser um admirador entusiasta de Cristiano Ronaldo, será da mais elementar justiça pensar no madeirense como o melhor futebolista do Mundo em 2013. Os mais críticos poderão dizer que o internacional português beneficiou da prolongada lesão de Lionel Messi, seu arqui-rival na liga espanhola e em todo o mundo. Sinceramente, acho que devemos dar mais crédito ao CR7. Marcou 67 golos ao longo do ano e, sobretudo, demarcou-se ao serviço da Seleção de Portugal, uma pecha que muita gente lhe apontou durante muito tempo. Quanto a Messi, o português não tem culpa do infortúnio do argentino e Ribéry, francamente, não é deste campeonato.

No ciclismo, Rui Costa fez muito mais do que dar pretexto a piadas de mau gosto de presidentes de clube sobre o seu homónimo benfiquista. O português venceu duas etapas da Volta a França, coisa que, antes disso, apenas Joaquim Agostinho tinha conseguido. O malogrado ciclista vê agora ser-lhe disputado o título de melhor português de sempre porque, além das duas vitórias no Tour, Rui Costa sagrou-se também Campeão Mundial de estrada, um feito absolutamente inédito.

Os desempenho de Cristiano Ronaldo e de Rui Costa aumentam as nossas expetativas para 2014. Se do futebolista não se espera outra coisa que não seja que carregue às costas a Seleção de Portugal no Mundial do Brasil e a conduza o mais longe possível, do ciclista dificilmente se poderá esperar mais do que ele já mostrou. Pela nossa parte ficaríamos muito satisfeitos se ele pudesse “apenas” repetir o que já fez.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Exemplo de dedicação

Os mais velhos do que eu lembrarão Maló como o grande guarda-redes da Académica. Outros, ainda mais velhos, falarão de Capela. Ramin, Brassard ou Melo são outros nomes que poderiam vir à baila quando se fala de grandes nomes que defenderam a baliza da Briosa. Nos tempos mais recentes foi Pedro Roma quem imperou entre os postes. O guarda-redes com mais jogos disputados pela equipa de Coimbra esteve ligado a bons momentos – como subidas de divisão – a outros menos bons, com duas descidas à Liga da Honra. Pelo meio ficaram centenas de defesas, muitos pontos ganhos, alguns frangos. É inevitável. Mas, para mim, Pedro Roma é a maior referência da história recente da Académica.

Hoje,o zerozero.pt apresenta uma entrevista com o antigo guarda-redes, que salienta que "a minha maior defesa foi terminar a licenciatura como jogador da Académica". Pedro Roma explica que sentiu a responsabilidade de incutir nos mais novos o significado de "ser da Académica".

No Futebol de hoje, poucos são os jogadores que, como Pedro Roma, passam (quase) toda a carreira no mesmo clube. Há uma dedicação e uma lealdade ao clube do coração que se perderam e de que Pedro Roma é um dos últimos exemplos. Como Hélio também o é, relativamente ao Vit. Setúbal, por exemplo.

O regresso de Nuno Piloto à Académica, assinalou-se aqui pela importância de que pode revestir-se não apenas do ponto de vista desportivo e competitivo mas também, e sobretudo, do ponto de vista da missão de transmitir às novas gerações a mística académica. A entrevista de Pedro Roma ao zerozero.pt permite-nos reforçar a importância que damos a esta questão.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Hoje não é a feijões

A equipa do F.C. Porto que dentro de umas horas entrará no estádio José Alvalade para defrontar o Sporting, será muito diferente daquela que apresentou da primeira vez que, para a Taça da Liga, ambos os clubes se defrontaram (vitória dos Leões, por 4-1).

A 4 de fevereiro de 2009, Jesualdo Ferreira, então técnico dos portistas, formou um onze com Nuno; Sapunaru (Diogo Viana), Stepanov, Pedro Emanuel e Benítez; Andrés Madrid (Ivo Pinto), Tomás Costa e Guarín; Mariano González, Farías e Tarik Sktioui (Josué). No banco de suplentes, sem terem sido utilizados, sentaram-se Ventura, Ricardo Dias, Sérgio Oliveira e Rabiola. Não há dúvidas: era uma equipa de segundas linhas: dos habituais titulares, só jogaram Mariano González e Tomás Costa. Diogo Viana, Ivo Pinto, Josué, Ricardo Dias e Sérgio Oliveira nem seriam utilizados nas trinta jornadas de um campeonato que consagrou o F.C. Porto como vencedor.

Os azuis e brancos nunca esconderam que a Taça da Liga era uma competição menor e tiveram, na forma como abordaram esse jogo, uma demonstração clara do desinteresse com que a encaram. 

Hoje, parece-me, será diferente e o jogo não será “a feijões”. A equipa precisa de vitórias e, apesar de os responsáveis portistas continuarem a desvalorizar a competição, “cheira-me” que, sobre o relvado, os jogadores vão jogar para ganhar. 

No banco, Paulo Fonseca também vai querer vencer. A questão é saber se o jovem treinador aguenta” mais um desaire. A sombra de André Villas-Boas começa a pairar sobre o Dragão e apesar de o técnico, que recentemente abandonou o Tottenham, ter dito que só voltaria a trabalhar na próxima época, a pressão sobre Pinto da Costa poderá levar o carismático presidente portista a devolver, antes disso, a cadeira de sonho a um treinador que, está visto, tem um coração de uma única cor: azul e branco.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Força aí, Perivaldo!

Perivaldo vai passar o Natal em Fortaleza, com a família. O ex-craque da selecção brasileira de Futebol, onde jogou com Zico, Sócrates ou Falcão, regressou há dias ao seu país depois de alguns anos a vaguear, sem abrigo e sem-abrigo, pelas ruas de Lisboa.

O jogador brasileiro chegou a Portugal em 1989. Os melhores anos da sua carreira já tinham acontecido, mas veio “fazer uma perninha” no Olhanense. Depois foi o alcoolismo e a marginalidade.

“Ninguém acreditou em mim, quando dizia que tinha sido jogador da selecção brasileira”. Foi descoberto por acaso, num dos apanhados de Nilton para o 5 Para a Meia-Noite. Posteriormente foi alvo de uma reportagem transmitida no Brasil, que o apresentava a viver na rua e a vender roupa velha na Feira da Ladra. O presidente do sindicato de futebolistas do Rio de Janeiro interessou-se pelo caso de Perivaldo, reuniu apoios e veio agora resgatá-lo.

Na hora da partida, Perivaldo disse que “nunca comsumi drogas nem fumei. Convivi com ladrões a assassinos que nunca me roubaram nem maltrataram. Fui enganado por aqueles que julguei serem os meus amigos”.

O 30 Metros deseja que Perivaldo encontre agora os amigos, verdadeiros, que lhe faltaram antes. Força aí, Perivaldo!

domingo, 8 de dezembro de 2013

O ridículo não mata

O ridículo não mata e a prova é o treinador do Benfica B, Hélder Cristóvão. Já aqui, ainda ontem, nos referíamos a ele e ao absurdo de ter qualificado de potência ofensiva uma equipa que marcou menos de metade dos golos do que a sua própria equipa tinha marcado.

Pois bem, Hélder Cristóvão voltou a “atacar”. No final do jogo com o Sp. Farense, que os algarvios venceram por 3-1, o treinador encarnado queixou-se da equipa de arbitragem e teve esta frase lapidar: “exigimos tratamento igual aos demais”.

Ora quem pode exigir isso são precisamente os demais, porque as equipas B, todas as equipas B, entre elas, obviamente, aquela que é treinada por Hélder Cristóvão, foram colocadas à força, na II Liga, sem que isso tenha resultado de qualquer mérito próprio.

Já aqui dissemos, por várias vezes, o quanto julgamos injusto e “indesportivo” o tratamento privilegiado que é dado às equipas B. Mais um exemplo: a equipa de que Hélder Cristóvão é treinador já utilizou, em 19 desafios disputados para o campeonato, mais dez jogadores do que o seu adversário de ontem. Entre os jogadores que utilizou estão: André Gomes, Steven Vitória, Jardel, Urreta, Funes Mori, Jan Oblak, Melgarejo e André Almeida, que fazem, normalmente, parte do plantel principal. Ou seja: as equipas B podem indiscriminadamente, utilizar os jogadores que entenderem, por entre um leque de 70 ou 80 – o plantel da categoria, o principal e a formação.
Por isso, Hélder Cristóvão só se ridiculariza com declarações como aquelas que prestou nos últimos dias. Mais valia seguir o exemplo de Cavaco Silva e calar-se. Era outra dádiva de Deus, se é que ele existe.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sentido do ridículo

O Futebol é, desde há muito, um “terreno” onde muita gente diz o que quer e outros tantos lhe dão ouvidos. A Imprensa, sobretudo a desportiva, dá ouvidos e, pior do que isso, serve de veículo transmissor a toda uma série de declarações sem tomar o cuidado elementar de saber se elas correspondem à realidade.

Ainda há dias aqui trouxemos o caso de António Carraça, entrevistado pelo Record sem que o jornalista tivesse o discernimento – ou a coragem? – para o confrontar com declarações absolutamente contraditórias que o ex-diretor do Departamento de Futebol Profissional do Benfica acabara de lhe fazer e que o jornalista transcreveu para os seus leitores. Enquanto cidadão e consumidor de jornais, considero que o jornalista não cumpriu a sua obrigação de informar o leitor.

No mesmo jornal, na edição de hoje, o treinador do Benfica B, Hélder Cristóvão, refere-se ao Sp. Farense, seu adversário desta tarde, realçando o seu poderio ofensivo. Tive a curiosidade de ir ver os números: a equipa encarnada marcou 39 golos em 18 jogos, média superior a dois, por jogo. O Sp. Farense nem metade marcou (apenas 19).

Provavelmente, nem Hélder Cristóvão, que respeito pela sua carreira de jogador, nem o jornalista (Valter Marques, neste caso) terão o sentido do ridículo? Ao jornalista, incumbia recordar ao treinador a realidade dos números, em vez de transcrever as suas declarações como se fossem uma verdade insofismável. O leitor mais incauto é enganado e fica com a sensação de que os algarvios são uma temível máquina de marcar golos…

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Madiba

Que dizer quando uma palavra – a do título – diz tudo e todas as palavra do Mundo não bastam?

Confesso que me faltam palavras para escrever sobre Nelson Mandela. Muitos o farão melhor do que eu. Outros, como eu, ficam, respeitosamente, em silêncio.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Limpar as mãos à parede

Nos últimos dias, mais atarefado, fiquei com disponibilidade limitada para fazer uma das coisas que mais gosto: ler jornais. Continuei a comprá-los e estou agora “a por a leitura em dia”. Só agora pude ler os jornais do passado fim de semana e surpreendeu-me que o Record tenha dedicado um oitavo (cinco-páginas-cinco) da sua edição de sábado a uma entrevista com o antigo Diretor do Departamento de Futebol Profissional do Benfica, António Carraça.

Ao longo dos anos que compro o Record tenho raramente tido a oportunidade para ler trabalhos tão extensos como este. Li-o com curiosidade até me deparar com uma declaração “octaviana”. A partir daí perdi o interesse.

Vamos à transcrição:

“António Carraça – Sou frontal e direto sempre que tenho de tomar uma posição e digo sempre o que penso, cara a cara, olhos nos olhos. Ao contrário de algumas figuras decorativas, “papagaios” pequeninos, feios e vulgares, de interesses duvidosos e que vagueiam no universo Benfica de forma sorrateira e interesseira, aproveitando todas as oportunidades para aparecerem na fotografia e na televisão. E que, cobarde e intelectualmente mentirosos, desrespeitaram o meu trabalho e o do meu grupo e de forma maldosa teceram comentários acintosos e de falta de solidariedade institucional.
Pergunta – Quem são os papagaios?
António Carraça – Todos os que estão atentos ao que se passa no clube sabem a quem me refiro”.

Octávio Machado não teria dito melhor. Mas para quem é frontal e direto e que diz o que pensa, cara a cara e olhos nos olhos, bem pode limpar as mãos à parede…

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Até ao fim!

No seu primeiro jogo em Coimbra, depois de se ter estreado com uma derrota em Braga, eu estava na linha da frente para lhe desejar felicidades: “- Bem-vindo a casa, Mister!”, gritei-lhe quando ele entrava para os balneários antes da partida com o Moreirense, no ano passado.

Confesso que tive dificuldade em acreditar que Sérgio Conceição voltasse a Coimbra e à “sua” Académica enquanto José Eduardo Simões fosse presidente do clube. Ainda bem que voltou. Ganhou aquele jogo com o Moreirense e a equipa manteve-se na I Liga quando já poucos acreditavam.

Agora, a Académica está em último lugar, com oito pontos, e encerra esta noite, contra o Olhanense, o primeiro terço da época. A temporada não tem corrido bem, exceção feita para a carreira na Taça de Portugal. No Campeonato – já para não falar da Taça da Liga – é que as coisas não têm corrido de feição.

Mas: como ganhar jogos se não há quem marque golos? A Briosa tem o pior ataque dos últimos anos. No defeso, Sérgio Conceição perdeu Edinho (13 golos no ano passado) Salim Cissé (seis) e Wilson Eduardo (seis, também). Estes jogadores representaram mais de 75 por cento dos golos marcados pela equipa.

Compreensão, portanto, para as dificuldades que o treinador necessariamente sente na construção de um ataque acutilante. Antes, no entanto, e acima de tudo, admiração e apreço por alguém que sente a Académica como Sérgio Conceição sente. Um treinador que sofre pelo seu clube e que chora (escrevi “chora” sem aspas) pela Académica será sempre o meu treinador.

Por isso não tenho dúvidas: por mim, é Sérgio Conceição até ao fim.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pontos de vista

A forma como a imprensa noticia um acontecimento condiciona os leitores e leva-os a interpretar os factos de maneira, por vezes, completamente diferente e mesmo oposta. Se cada jornal, com o seu próprio estatuto editorial, apresenta a atualidade sob o seu ponto de vista, é natural que isso influencie o modo como cada leitor interpreta a informação que lhe é transmitida. O destaque com que se valoriza uma determinada ocorrência, pode amplificar a importância da ocorrência propriamente dita e a amplificação (ou omissão) de um acontecimento tem quase sempre por base uma escolha editorial que tanto pode ser óbvia como subliminar.

Vejamos um caso concreto que nos é dado pela imprensa de hoje. O Record, que dedica três quartos da capa à vitória do Benfica em Guimarães, consagra o outro quarto ao empate do F.C. Porto no terreno do Estoril Praia, destacando, acima de tudo que houve “Violência na Tribuna – Adelino Caldeira agride presidente da AFL”. Aquilo que é dado como certo na capa – a agressão de um dirigente portista – é menos certo na página 16, onde o assunto é desenvolvido em meia página. Aí, faz-se fé numa “testemunha que não se quis identificar” e reproduzem-se declarações de suposto agredido. No final do artigo, assinado por Miguel Amaro e Miguel Pedro Vieira, dá-se uma informação que é totalmente omitida na capa: “No final da partida, foram os dirigentes portistas a dizer a Nuno Lobo que iam tomar providências por terem sido provocados pelo líder da AFL”.

O jornal ter destacado em primeira página a pretensa agressão de um e omitido a suposta provocação do outro é uma escolha editorial que o bom do leitor pode questionar. Tal como pode questionar a razão pela qual o mesmo assunto é abordado no Jornal de Notícias em apenas oito linhas, nas páginas interiores, e com uma nuance importante: o JN noticia que “o presidente da AFL diz que foi agredido”. O sublinhado é nosso, claro.

Os mesmos jornais, Record e Jornal de Notícias, têm também tratamento diferente para um caso que envolveu o treinador do Benfica no jogo que os encarnados disputaram em Guimarães. Se, na capa, o JN publica que “Nervoso, Jorge Jesus envolve-se em rixa com a Polícia no final do jogo”, acompanhado por uma pequena imagem onde se vê o treinador envolto em agentes policiais, o Record omite pura e simplesmente o caso na capa, remetendo-o para as páginas interiores

Ou seja: o Record valorizou a “violência” na Amoreira e desvalorizou o caso Jesus; o JN valorizou a “rixa” em Guimarães e desvalorizou a “agressão” na Amoreira. Coincidência? Nada disso: cada jornal viu os mesmos acontecimentos de um ângulo diferente, aquele que tem a ver com a escolha editorial de cada um, e relata-os à sua maneira, orientando os respetivos leitores de acordo com essa escolha.

É por isso que eu, no que diz respeito a jornais, não embarco em futebóis. Compro-os (hoje, além daqueles dois, também comprei o I), leio-os, mas dou-lhes o crédito que merecem: pouco.


domingo, 22 de setembro de 2013

Memória de elefante

Na conferência de imprensa de lançamento do Vit. Guimarães – Benfica, de logo á tarde, o técnico encarnado recusou comentar novamente a maneira como a sua equipa perdeu a Taça de Portugal da época passada, frente ao adversário desta noite.

“Se for para falar do passado, também tinha que recordar quando lhes ganhámos por 4-0” – disse Jorge Jesus.

O treinador do Benfica fez mal em não falar desse jogo que ganhou aos minhotos. É que, se da final da Taça toda a gente se recorda, desses 4-0, só Jorge Jesus parece ainda lembrar-se.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Piloto automático

Contrariando uma tendência dos últimos anos, segundo a qual quem saía não voltava a entrar, o médio Nuno Piloto regressou à Académica após uma ausência de quatro anos. Surpreendentemente, a tendência já havia sido quebrada com o regresso de dois outros jogadores, no início da época: Ivanildo e Diogo Valente também voltaram a Coimbra depois de ausências mais ou menos prolongadas.

Durante anos, parecia haver uma maldição sobre quem saía da Académica. Recordo apenas dois casos de jogadores que quiseram voltar e viram as portas fechar-se: João Tomás, academista confesso, tinha o sonho de terminar a carreira no seu clube. Fez várias tentativas para voltar, mas a direcção nunca acedeu às suas pretensões. E todos sabemos como teria dado jeito, em certas ocasiões, ter alguém na área, com faro pelos golos, como tinha o João Tomás que é, certamente, o ponta-de-lança português mais goleador da última década.

Outro exemplo dessa “maldição” era o próprio Nuno Piloto. Tal como João Tomás, o médio foi formado na Académica, onde, inclusivamente, tirou um curso superior. Não devemos engar-nos ao dizer que deve ter sido o último jogador profissional da Académica a obter o “canudo”. Depois de uma época em Chipre – onde se lesionou com gravidade – Piloto quis regressar e ligou a um alto dirigente da Académica a quem deu conta disso. “Espera um telefonema nosso”, ter-lhe-ão dito. A chamada nunca aconteceu.

Por ter sido um dos últimos jogadores-estudantes e, além disso, ter sido capitão de equipa, quando regressou pela primeira vez a Coimbra, ao serviço do Olhanense, Nuno Piloto foi longamente saudado pela Mancha Negra, aos gritos de “salta, Nuno, salta, Nuno, olé”. Deve pois ter sido com agrado que a massa adepta da Briosa recebeu a notícia de que o seu antigo jogador tinha voltado a casa. Eu, pelo menos, fiquei muito contente com isso: é um símbolo da Académica, uma referência da mística coimbrã como não havia outro no plantel desde há quatro anos. E a Académica precisa de quem perpetue essa mística, porque já não há manos Campos, nem Gervários, nem Rochas, nem Pedros Romas, nem outros, que foram terminando as suas carreiras sem haver sucessores. O último tinha sido precisamente Nuno Piloto.

Não me interessa o quanto vale Nuno Piloto como jogador. Como referência da mística da Académica, eu promovia-o automaticamente a capitão de equipa.

sábado, 7 de setembro de 2013

Portugal jogou desfalcado

Portugal venceu a Irlanda do Norte por 4-2 e deu mais um passo na caminhada para a Fase Final do Campeonato do Mundo de Futebol. Parece que a exibição não foi grande coisa, mas Cristiano Ronaldo marcou por três vezes e arrumou a questão.

Vibrei, como sempre, com a vitória da Seleção. Mas hoje, confesso, os ouvidos estavam na Irlanda e o coração estava noutro local. Porque enquanto o Hélder Postiga era expulso e filho da D. Dolores marcava golos, eu não podia deixar de pensar que Portugal estava a jogar desfalcado.

Por vezes, o Futebol faz-nos esquecer as agruras da vida. Mas nenhuma vitória consegue atirar para segundo plano o drama dos incêndios e a tragédia da perda de vidas.

Contra a Irlanda, oito Heróis faltaram à chamada:Ana Rita Pereira (24 Anos, Alcabideche), António Nuno Ferreira (45 Anos, Miranda do Douro), Bernardo Cardosa (18 Anos, Carregal do Sal), Bernardo Figueiredo (23 Anos, Estoril), Cátia Dias (23 Anos, Carregal do Sal), Daniel Falcão (25, Anos, Miranda do Douro), Fernando Reis (50 Anos, Valença) e Pedro Rodrigues (40 Anos, Covilhã).

domingo, 1 de setembro de 2013

Amanhã como será?

Comprei a edição de hoje do L’Équipe, provavelmente o melhor jornal desportivo do mundo. É um jornal “à antiga”, grande formato, loge do formato tablóide que é atualmente utilizado pela esmagadora maioria dos jornais. A primeira página é completamente dedicada a Teddy Riner, jovem francês de 24 anos que obteve, no Rio de Janeiro, o seu sexto título de Campeão do Mundo de Judo (na categoria de mais de 100 quilos). Além da capa, completa, sublinho, também as páginas dois e três são inteiramente consagradas ao Judo.

O Futebol surge na página quatro e ocupa as restantes páginas do primeiro caderno, que tem um total de 12. Uma dessas páginas é dedicada a Josip Skoblar, lembram-se dele? Avançado jugoslavo (agora, croata), é o recordista de golos marcados, 44, numa época no principal campeonato francês e teve passagem por Portugal, como treinador do Famalicão… No segundo caderno, mais duas páginas de Futebol, uma de Ciclismo, duas e meia de Rugby, e ainda espaços alargados para Atletismo, Canoagem, Automobilismo, Motociclismo. Basquetebol, Andebol e Ténis. Voleibol, Hóquei no Gelo, Ginástica Rítmica, Equitação, Remo, Golfe, entre outras modalidades, completam o ramalhete.

Nem uma palavra para o Sporting – Benfica que ontem ameaçou parar Portugal e que hoje mereceu 15 páginas no Record.

Mas o que eu estou mesmo mortinho para ver é o destaque que amanhã a imprensa portuguesa dará a Emanuel Silva e João Ribeiro, portugueses que hoje se sagraram Campeões do Mundo de Canoagem em K-2 500.

Arma Secreta

A grande surpresa do jogo de ontem entre Sporting e Benfica foi ver Óscar Cardozo sentado no banco, ao lado de Jorge Jesus. Avançado e treinador anda(va)m desavindos desde, pelo menos, o jogo da final da Taça de Portugal, que o Benfica perdeu para o Vit. Guimarães. No final da partida, Óscar Cardozo empurrou ostensivamente Jorge Jesus e acusou-o de ser o grande culpado pela derrota. Desde então, o treinador não fez nada – publicamente – para amenizar a questão que se arrastou durante quase três meses até ser anunciada a imposição de uma multa avultado ao avançado paraguaio. Entretanto, o clube mostrava-se incapaz de vender o jogador, impedido de utilizar as instalações do clube.

Pensava-se que Óscar Cardozo sairia do Benfica – e ainda pode sair – por qualquer preço. Publicamente, o treinador dos encarnados foi dando indicações de que não contava com o jogador, mas a sua venda foi sendo sucessivamente adiada. Até agora.

Óscar Cardozo foi finalmente reintegrado no plantel, treinou e Jorge Jesus convocou-o para o jogo contra o Sporting. “O Cardozo está em condições”, disse o treinador. Ora, se está em condições, não compreendo que não tenha jogado de início, a não ser que Jorge Jesus quisesse fazer do paraguaio a sua arma secreta. Mas isso, como se viu, seria sempre uma aposta perdida, porque em Alvalade toda a gente conhece Óscar Cardozo, sobretudo desde os três golos que ali marcou no ano passado.

sábado, 31 de agosto de 2013

Promessa

Lembrei-me daquele jogador apontado como “um dos melhores do mundo e quiçá da Europa” ao saber que Franck Ribéry tinha sido eleito melhor jogador da Europa na época passada. O jogador francês recebeu 36 votos, dos 53 possíveis, numa votação reservada a jornalistas. Lionel Messi, teve 14 votos e o “nosso” Cristiano Ronaldo, três, apenas. Ribéry ganhar o título de melhor futebolista a jogar na Europa é quase a mesma coisa que o Carapinheirense ganhar a I Liga. O quê, o Carapinheirense não está na I Liga? Não faz mal, o Ribéry também não é o melhor jogador da Europa!

É verdade que Ribéry teve uma época de sonho: foi campeão europeu, da Alemanha e venceu a taça germânica. Daí a ser o melhor da Europa…

Penso que cada vez há menos dúvidas relativamente a uma coisa: Lionel Messi é de outro planeta. O argentino deixa a concorrência a milhas e só o patriotismo de alguns portugueses coloca Cristiano Ronaldo no mesmo patamar. Que o português tenha recebido apenas três (!) votos é uma grande lição de humildade para todos. Se bem que estas coisas não sejam de levar muito a sério. Porque a sério, a sério, quem é que realmente pensa que Frank Ribéry foi o melhor em 2012/13?

No ano em que Ribery for melhor do que Messi, o Blogue dos Trinta Metros patrocina as camisolas do Carapinheirense. Está prometido!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Verdade Desportiva

À 4ª Jornada, o Benfica B ganhou pela primeira vez, no campeonato da II Liga. Foi ontem, em casa, frente ao Portimonense. No final do jogo, o treinador dos algarvios queixou-se da injustiça que permite aos clubes “B” utilizarem jogadores do respectivo plantel principal. Tem toda a razão Lázaro Oliveira, como já aqui o escrevemos. E aqui E aqui também. No jogo de ontem, por exemplo, André Gomes, Jardel, Melgarejo e Steven Vitória, que pertencem ao plantel principal dos encarnados, ajudaram o “B” a vencer. 

Diz Lázaro Oliveira, citado no Record, que “o Benfica pode apresentar um onze diferente todas as semanas”, vantagem que as outras equipas, como o Portimonense, não têm. Poderia pensar-se que era apenas o desabafo de alguém que acaba de perder um jogo, mas os números confirmam as palavras do treinador: na edição do ano passado, as equipas B utilizaram muito mais jogadores do que as outras. Benfica (42 jogadores utilizados), Braga (42), F.C. Porto (30), Marítimo (43), Sporting (44) e Vit. Guimarães (41), dispuseram de mais opções do que os adversários. Entre as equipas “não-B”, o Feirense foi aquela que utilizou mais jogadores (32) e o Santa Clara a que utilizou menos (24, apenas).

Ainda bem que Lázaro Oliveira tem a coragem para denunciar esta situação. Trata-se de um treinador respeitado, com currículo. Seria bom que não deixasse morrer o assunto, sob pena de pensar-se que a sua opinião foi ditada apenas por um resultado negativo. Espero que os dirigentes do Portimonense apoiem as declarações do treinador e que haja outras vozes que se levantem contra um campeonato que é de facto injusto.

Enquanto blogue, aqui estaremos para continuar também a emitir opiniões que são as de um “simples adepto” de Futebol, de Verdade Desportiva e, afinal, de Justiça.

sábado, 24 de agosto de 2013

Transparência e seriedade

Na segunda jornada da Liga, que começa hoje, três jogadores, expulsos na ronda inaugural, não vão poder jogar: Pawel Kieszek (Vit. Setúbal), Mladen (Olhanense) e Dramen (Gil Vicente) viram o cartão vermelho na primeira jornada e foram castigados com um jogo de suspensão. Sem querer discutir a justiça das expulsões, questiono os castigos aplicados.

Vejamos um caso concreto: Dramen foi expulso por acumulação de cartões amarelos. Por duas vezes tentou impedir a marcação de faltas pelo adversário; Pawel Kieszek foi expulso com vermelho direto por ter agredido à cabeçada um jogador adversário. Ambas as situações foram bem avaliadas pelos árbitros, que fizeram o que tinham de fazer e os regulamentos determinam.

Agora, pergunto: como podem os jogadores ter castigo idêntico? Dois amarelos que não resultam de qualquer falta grave “valem” o mesmo que uma agressão à cabeçada? Afinal, a violência compensa?

Na minha opinião, qualquer expulsão por conduta violenta deveria ser punida, sempre, com pelo menos dois jogos de castigo; uma expulsão por agressão deveria valer, pelo menos, três jogos. Seria um sinal claro, por parte de quem “manda”, que se quer, de facto, erradicar  comportamentos violentos dos campos de futebol.

Fala-se muito dos árbitros e da sua influência nos resultados dos jogos. Eu penso que quando todos, no Futebol, forem tão honestos como os árbitros e os jogadores, haverá mais transparência e credibilidade. 

Não há seriedade no caso que apontei agora, como não houve no caso, também aqui comentado, de Rui Patrício, embora aqui tenha mais a ver com a forma como o castigo foi cumprido do que com o castigo em si. É absolutamente absurdo que a pena ao guarda-redes do Sporting tenha sido, na realidade, apenas e só uma multa de 39 euros.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Questão de perspetiva

Com a colaboração do ex-árbitro internacional Joaquim Campos, um dos melhores de sempre em Portugal, ao nível de António Garrido, Vítor Pereira ou Pedro Proença, entre outros, o Record publica semanalmente uma análise ao desempenho dos árbitros em jogos da I Liga.

Na edição de hoje, o jornal analisa a jornada inaugural do campeonato e soma as notas atribuídas aos árbitros pelo Record, A Bola, Correio da Manhã e Rádio Renascença. Estabelece assim uma classificação segundo a qual Pedro Proença teve o melhor desempenho (no Gil Vicente – Académica) e Olegário Benquerença o pior (no Vit. Guimarães – Olhanense).

Para justificar a pior classificação de Benquerença, há esta pérola: “(…) este internacional até realizou um bom trabalho em Guimarães. Ficaram apenas dúvidas no lance em que o Olhanense pediu grande penalidade. Ficou no ar a questão da intenção de jogar a bola com o braço por parte de Moreno. E o leiriense [Olegário Benquerença] parece ter sido prejudicado pela sua decisão”.

É uma forma de ver as coisas. Pela minha parte, se o árbitro não marcou um penalti que existiu, o prejudicado foi o Olhanense. Ou não?