sábado, 15 de junho de 2013

A "estrangeirização" do Benfica

De acordo com o Record, o Benfica assegurou já a contratação de seis reforços tendo em vista a próxima época. Todas as novas contratações foram feitas no estrangeiro: há quatro futebolistas sérvios, um argentino e outro paraguaio. Paralelamente, a saída dos portugueses Carlos Martins e Miguel Vítor é dada como certa.

Preocupa-me a estrangeirização do futebol português, em particular de uma clube com a enorme dimensão que o Benfica tem. Longe vão os tempos em que os plantéis das equipas portuguesas eram esmagadoramente compostas por futebolistas nascidos em território português. O Benfica era disso o exemplo maior: os próprios estatutos não permitiam a contratação de jogadores estrangeiros e foi precisa uma Assembleia Geral para alterar essa política discriminatória.

Desde aqueles tempos, muita coisa se alterou em todo o Mundo e, claro, o Futebol não foge à regra. A abolição de fronteiras na Europa, a livre circulação de pessoas e de bens, entre outras causas, tornam hoje mais facilitada a contratação de jogadores nascidos noutros países. Pura e simplesmente não é viável ter hoje uma equipa completamente formada por futebolistas portugueses. Esta verdade é tanto maior quando se pensa nos grandes clubes como F.C. Porto, Benfica, Sporting ou mesmo Sp. Braga. Marítimo ou Vit. Guimarães, equipas que abordam cada época com legítimas aspirações a fazer boa figura tanto nas competições internas como na Europa.

Por outro lado, estou em crer que o recurso exagerado a jogadores estrangeiros, a maior parte dos quais fica pouco tempo nos clubes de acolhimento, não ajuda a que os adeptos se identifiquem com eles e reforcem a sua ligação aos clubes do coração. Sempre tendo o Benfica como exemplo, as grandes referências encarnadas continuam a ser jogadores nascidos em Portugal ou em antigas colónias portuguesas. E uma das razões é porque ficam mais tempo no clube. O brasileiro Luisão, é verdade, está há tempo suficiente na Luz para ser elevado ao estatuto de referência, mas, entre os jogadores estrangeiros, está sozinho nesse patamar.

A propósito, recordo aqui uma coisa de que me lembrei aquando da recente final da Taça de Portugal, quando foi noticiado que Luisão – ele, outra vez – poderia tornar-se no primeiro capitão estrangeiro do Benfica e levantar a Taça de Portugal. Como se sabe, o Benfica perdeu e aquilo não aconteceu, mas lembrei-me de outra final, a da (então) Taça dos Campeões Europeus de 1989/90. O Benfica jogou essa final em Viena, contra o Milan, perdendo por 0-1. No onze encarnado, surpreendeu que fosse Silvino a ostentar a braçadeira de capitão, que era normalmente usada pelo brasileiro Ricardo Gomes. A explicação foi dada no final do jogo pelo guarda-redes português: tinha sido o próprio Ricardo a tomar a iniciativa de entregar a braçadeira a Silvino. “Se ganharmos, não faz sentido ser um estrangeiro a levantar a Taça”, terá ele dito.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Escola de treinadores

Costinha foi apresentado como treinador do Paços de Ferreira e agora falta só o Olhanense anunciar quem vai contratar para assegurar o comando técnico da equipa para termos o painel completo: 16 equipas – 16 treinadores. Para já, e como falta a equipa algarvia, temos, 15, todos portugueses, e apenas uma estreia: João de Deus, que chega à I Liga para orientar o Gil Vicente.

Uma nota saliente: quatro dos 15 foram jogadores do F.C. Porto – além de Costinha, Nuno Espírito Santo (Rio Ave), Sérgio Conceição (Académica) e Pedro Emanuel (Arouca) também jogaram pelos Dragões e foram colegas na época de 2002/04, ano em que se sagraram Campeões Europeus, sob o comando de José Mourinho.

Muitos dos jogadores dessa temporada estão ainda no ativo. Entre aqueles que já se retiraram, Carlos Secretário e Jorge Costa também seguiram a carreira de treinador. Não restam dúvidas: se as camadas jovens do F.C. Porto formasse tantos jogadores como a equipa principal forma treinadores, o clube ganhava ainda mais dinheiro em transferências.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ondas de choque

A menos de uma reviravolta de última hora, e a fazer fé no que a imprensa vem publicando de forma quase unânime, Vítor Pereira não será o próximo treinador do F.C. Porto, clube que conduziu ao título de Campeão Nacional nas duas últimas temporadas. Ao que parece, o treinador não terá aceitado a proposta de Pinto da Costa para renovar contrato. A ser verdade, trata-se de uma das poucas derrotas do histórico presidente dos dragões.

A saída anunciada de Vítor Pereira tem algo de inédito – ou, pelo menos, de muito raro – na história recente do F.C. Porto: um treinador campeão ir embora, apesar da vontade do clube em que ele continue. Sim, eu sei que aconteceu o mesmo quando André Vilas-Boas disse adeus à sua “cadeira de sonho”, mas aí, o F.C. Porto recebeu uma pipa de massa, o que não acontecerá agora, uma vez que Vítor Pereira estava em final de contrato. Ou seja: o treinador que o clube queria estava no clube, vai-se embora, e o clube não ganha nada com isso. Só perde e, por isso, falarmos de uma derrota para Pinto da Costa.

Recorde-se que Vítor Pereira conseguiu resultados extraordinários na I Liga. Em duas temporadas perdeu apenas um jogo, em Barcelos, no início de 2011/12, numa partida que correu mal ao F.C. Porto e ainda pior à equipa de arbitragem. É obra de que nenhum outro treinador se pode gabar. Numa palavra, não será fácil substitui-lo.

Se eu fosse adepto ou simpatizante do F.C. Porto, estaria muito preocupado com a próxima época, também pela saída de João Moutinho, o “coração” da equipa. O ex-sportinguista garante coesão defensiva apoiando na zona recuada, dá dinâmica ao meio-campo, abre espaços à frente de ataque, seria um jogador completo se melhorasse a finalização. Não foi por acaso que durante a sua curta ausência por lesão a equipa portista “abanou” no Campeonato e foi eliminada, prematura e surpreendentemente, diga-se, da Champions League.

Se não será fácil encontrar substituto para Vítor Pereira, encontrar alguém à altura de João Moutinho será ainda mais complicado.

Aliás, estou em crer que as ondas de choque da saída de ambos, sobretudo a de João Moutinho, já se fazem sentir. É pura teoria, claro, mas a renovação do Benfica com Jorge Jesus – ainda não é oficial, mas já ninguém duvida dela – pode estar ligada à perceção que por certo os responsáveis benfiquistas têm de que o grande rival ficará enfraquecido e “para o ano é que é”.