Preocupa-me a estrangeirização do futebol português, em
particular de uma clube com a enorme dimensão que o Benfica tem. Longe vão os
tempos em que os plantéis das equipas portuguesas eram esmagadoramente
compostas por futebolistas nascidos em território português. O Benfica era
disso o exemplo maior: os próprios estatutos não permitiam a contratação de
jogadores estrangeiros e foi precisa uma Assembleia Geral para alterar essa
política discriminatória.
Desde aqueles tempos, muita coisa se alterou em todo o Mundo
e, claro, o Futebol não foge à regra. A abolição de fronteiras na Europa, a
livre circulação de pessoas e de bens, entre outras causas, tornam hoje mais
facilitada a contratação de jogadores nascidos noutros países. Pura e
simplesmente não é viável ter hoje uma equipa completamente formada por
futebolistas portugueses. Esta verdade é tanto maior quando se pensa nos
grandes clubes como F.C. Porto, Benfica, Sporting ou mesmo Sp. Braga. Marítimo
ou Vit. Guimarães, equipas que abordam cada época com legítimas aspirações a
fazer boa figura tanto nas competições internas como na Europa.
Por outro lado, estou em crer que o recurso exagerado a
jogadores estrangeiros, a maior parte dos quais fica pouco tempo nos clubes de
acolhimento, não ajuda a que os adeptos se identifiquem com eles e reforcem a
sua ligação aos clubes do coração. Sempre tendo o Benfica como exemplo, as
grandes referências encarnadas continuam a ser jogadores nascidos em Portugal
ou em antigas colónias portuguesas. E uma das razões é porque ficam mais tempo
no clube. O brasileiro Luisão, é verdade, está há tempo suficiente na Luz para
ser elevado ao estatuto de referência, mas, entre os jogadores estrangeiros, está
sozinho nesse patamar.
A propósito, recordo aqui uma coisa de que me lembrei
aquando da recente final da Taça de Portugal, quando foi noticiado que Luisão –
ele, outra vez – poderia tornar-se no primeiro capitão estrangeiro do Benfica e
levantar a Taça de Portugal. Como se sabe, o Benfica perdeu e aquilo não aconteceu,
mas lembrei-me de outra final, a da (então) Taça dos Campeões Europeus de
1989/90. O Benfica jogou essa final em Viena, contra o Milan, perdendo por 0-1.
No onze encarnado, surpreendeu que fosse Silvino a ostentar a braçadeira de
capitão, que era normalmente usada pelo brasileiro Ricardo Gomes. A explicação
foi dada no final do jogo pelo guarda-redes português: tinha sido o próprio Ricardo
a tomar a iniciativa de entregar a braçadeira a Silvino. “Se ganharmos, não faz
sentido ser um estrangeiro a levantar a Taça”, terá ele dito.