Hoje, coisa
rara, comprei dois jornais desportivos. Além do
Record, minha compra habitual, comprei
também o
L’Équipe. A capa chamou-me a atenção, com uma fotografia fantástica de
Christopher Froome, o inglês que se prepara para ganhar a Volta à França. A espectacularidade
da imagem e a vontade de comparar um dos melhores jornais desportivos do mundo
com os seus congéneres portugueses fez-me decidir pela compra.
O L’Équipe
custa 1,10 Euro. Em termos absolutos, é mais caro 25 cents do que o Record, A
Bola ou o Jogo. Importa no entanto referir que o salário médio mensal em França
é de um pouco mais de 2.200 Euro, enquanto em Portugal é de apenas 870. Ou
seja, proporcionalmente, o l’Équipe é muitíssimo mais barato. O jornal francês
tem uma tiragem média de 380 000 exemplares (65 milhões de habitantes em França);
proporcionalmente, o Record, tem uma tiragem média superior, com os seus 84 200
exemplares (Portugal tem 10,5 milhões de habitantes).
Se estas
diferenças são facilmente mensuráveis, já a qualidade intrínseca das
publicações o é menos. Correndo pois o risco de fazer uma análise subjetiva,
aponto algumas diferenças que fazem pender os pratos da balança, claramente,
para o L’Équipe.
- Qualidade
das fotografias. Ao que parece, o L’Équipe continua a investir em repórteres
fotográficos, ao contrário do que acontece com os jornais portugueses, que se
limitam a comprar imagens de agências. Um bom exemplo disso mesmo foi dado
ontem, quando A Bola, Jogo e Record publicaram na capa imagens idênticas de Rui
Costa a ganhar a sua etapa do Tour. Inquestionavelmente, as fotos eram diferentes
em milésimos de segundo, mas foram tiradas pelo mesmo fotógrafo, pela mesma
câmara, do mesmo ângulo.
- Qualidade
da informação. No L'Équipe, a reportagem do Tour, evento desportivo com maior número de
seguidores em todo o mundo, é assegurada por nada menos de oito redatores e
pelo menos três repórteres de imagem. Os jornais portugueses não têm nenhum
enviado especial a seguir a prova, apesar de nela estarem presentes dois
ciclistas portugueses. Resultado: oito páginas de reportagem
super-interessantes no L’Équipe, com informação completa sobre a prova
(incluindo classificação de todos os ciclistas na etapa e na geral). O Record
apresenta duas páginas e tem de recorrer à página pessoal de Rui Costa no
Facebook para transcrever “declarações” do ciclista português. Quanto a Sérgio
Paulinho, nem uma palavra, apenas a sua inclusão nas classificações de etapa e
geral.
-
Diversidade de conteúdos. No Record, onze chamadas de capa: nove para assuntos relacionados
com o Futebol e dois para assuntos extra-desporto, com a despedida de Alexandre
Pais do cargo de diretor do jornal e a Miss Fanática 2012/13. Além do Futebol,
portanto, nenhuma referência a qualquer outra modalidade desportiva. No L’Équipe,
quatro quintos da capa vão para a tal fotografia de Christopher Froome, mas
ainda há espaço para o Atletismo e para o Futebol, além de uma chamada para uma
entrevista com o ator Bud Spencer.
O L’Équipe
apresenta-se em dois cadernos de oito páginas cada. O primeiro é inteiramente
dedicado à Volta a França. No segundo caderno, destaque de capa para a Vela, Rugby
e o Taekwondo. No interior, notícias sobre Ténis, Golfe, Atletismo, Equitação,
Natação, Hóquei no Gelo, Automobilismo, Motociclismo, Tiro com Arco,
Basquetebol, Futebol (três páginas), Voleibol e a já mencionada entrevista com
Bud Spencer.
No caso do
Record, 26 das 32 páginas da edição do dia, são dedicadas ao Futebol, por
enquanto ainda sem competições a decorrer. Com mais duas páginas dedicadas ao “Verão”,
uma ao “Jogo da Vida” e outra à “Miss Fanática”, resta pouco espaço para se
falar das modalidades ditas “amadoras”.
Não tenho
dúvidas: Portugal até pode vender, proporcionalmente, mais jornais desportivos do
que a França, mas a qualidade do L’Équipe é muitíssimo superior à dos jornais
portugueses.