domingo, 6 de abril de 2014

República das Bananas

Foi esta semana anunciada a suspensão de 60 dias aplicada ao presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, por críticas à arbitragem. A 28 de setembro, comentando as incidências do Benfica-Belenenses, o presidente do clube da Luz disse que “para não ver um fora-de-jogo daqueles, o árbitro ou é cego ou não tem competência”. Sem que se fique a saber se o árbitro era, afinal, uma coisa ou outra, a Comissão de Disciplina da FPF decidiu suspender o dirigente. Que tenha levado seis-meses-seis para tomar uma decisão sobre as declarações de Luís Filipe Vieira é caso para dizer que a justiça federativa é lenta ou não tem competência.

A suspensão aplicada ao líder do Benfica impede-o, entre outras coisas, de discursar em qualquer ocasião na qualidade de presidente, assim como de conceder entrevistas. A notícia é boa em si: durante dois meses, o ar andará menos poluído, isento das atoardas de Luís Filipe Vieira. Diria o mesmo de qualquer outro dirigente de clube, porque, como já aqui defendemos, a maioria dos presidentes não são flor que se cheire.

Mas o castigo ao presidente do Benfica levanta a questão da liberdade de expressão, conquistada vai fazer 40 anos. É uma das mais preciosas conquistas do 25 de abril e está garantida na Constituição da República. No capítulo dedicado a Direitos, liberdades e garantias pessoais, o artigo 37º da lei fundamental diz claramente que “todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações”. A Constituição acrescenta que “o exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura”.

Que o Futebol português tenha as suas próprias leis, ainda dou de barato. Que essas leis contrariem a lei fundamental do País é que não aceito, porque estaríamos numa República das Bananas. Nesse sentido, faz bem Luis Filipe Vieira em reclamar (embora com fundamentos diferentes) do castigo que lhe foi aplicado. Mesmo que continue a poluição sonora com os seus dislates.

Sem comentários:

Enviar um comentário