quarta-feira, 30 de abril de 2014

Desenquadrados do ambiente

Os atletas olímpicos portugueses Nélson Évora e Francis Obikwelu afirmam terem sido vítimas de racismo por lhes ter sido negada a entrada numa discoteca de Lisboa onde pretendiam festejar o aniversário do primeiro. “É uma vergonha! Disseram-nos que havia demasiados pretos no grupo. Estamos em 2014! Nunca passei por uma situação destas”, desabafou Obikwelo enquanto o presidente do Conselho de Administração do Grupo a que pertence a discoteca Urban Beach se defende dizendo que o porteiro não permitiu que duas pessoas entrassem porque “estavam desenquadradas do ambiente” habitual da discoteca.

Desenquadradas do ambiente. É, naturalmente, uma boa maneira de se vedar a entrada a alguém. Sobretudo se for preto, como é o caso de Nélson Évora, português de origem cabo-verdiana, e de Francis Obikwelu, português de origem nigeriana. Pouco importa se representam Portugal nos Jogos Olímpicos; pouco importam se aí ganham medalhas em nome de Portugal. Podem não estar desenquadrados nos Olímpicos, mas estão-no na Urban Beach. Porque são pretos. E ainda por cima aparecem em grupo…

Portugal (e o resto do Mundo, claro) está ainda muito longe de reconhecer os mesmos direitos a todos os cidadãos. É certo que nunca houve escolas ou autocarros para brancos e outros para pretos, mas o racismo existe. Com o passar dos anos, há uma tendência para aceitar a diferença (pode ser a cor, a orientação sexual, a religião…), mas de vez em quando aparecem uns urban bitches quaisquer com comportamentos que são condenáveis há muito. Eu diria mesmo, desde sempre.

Os próprios atletas que agora se afirmam vítimas têm um discurso digno de registo. Obikwelu diz que “primeiro até reagimos bem, quando nos disseram que eram demasiados pretos no grupo. Depois percebemos que era a sério e protestámos, porque até tínhamos feito uma marcação”. A meu ver, o racismo é sempre inaceitável, com ou sem marcação, mas isso sou eu que digo, porque o Francis, aparentemente, pensa de forma diferente.

A denúncia deste e de outros casos permite sensibilizar a sociedade para as injustiças. É o único lado bom (?) desta triste história.

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