segunda-feira, 7 de abril de 2014

O doping e a viciação de resultados

Nos últimos dias veio a lume a possibilidade de um Zenit S. Petersburgo – Vit. Guimarães, a contar para a Liga Europa de 2004/05 ter tido o resultado viciado. A denúncia foi feita por um antigo jogador da equipa russa, que avançou que elemento do plantel teria pago três mil dólares para subornar o árbitro. Os russos venceram por 2-1.

A questão da viciação de resultados não é nova, mas é, naturalmente, difícil de provar. Nos últimos anos têm sido dados como provados alguns casos de suborno, sobretudo em Itália e em vários países do leste europeu. Em Portugal, desde o longínquo (1959) caso Inocêncio Calabote – cuja fama sobreviveu até hoje sem que alguma vez tenha sido evidenciada a culpabilidade do árbitro eborense – até aos mais recentes episódios do “Apito Dourado”, poucos casos de compra de resultados foram provados. Se calhar, os mais mediáticos foram o que levou à extinção do Riopele, o que envolveu a Sanjoanense e o Paços de Brandão (venceram os seus jogos por 32-0 na última jornada do distrital de Aveiro, em 1986/87 quando ambos precisavam de marcar muitos golos para ficar um à frente do outro) e o caso do Famalicão – Macedo de Cavaleiros, de que o Fafe beneficiou para ascender à I Divisão, em 1988/89. O árbitro algarvio Francisco Silva foi apanhado com um cheque cuja proveniência não soube explicar no preâmbulo de um Penafiel – Belenenses, António Guímaro, de Coimbra, também foi apanhado, tal como o presidente do Leça, Manuel Rodrigues.

É meia-duzia de casos quando anualmente se disputam milhares de jogos para dezenas de competições. Claro que um único caso de resultado viciado é um caso a mais, mas não se pode dizer que o suborno (a árbitros ou a jogadores) seja moeda corrente no Futebol, pelo menos casos provados.

No entanto, no Record de hoje, o presidente Centro Internacional da Segurança no Desporto, entidade que zela para segurança e integridade do desporto, Mohammed Hanzab, afirma que “jogos combinados são já uma praga pior do que o doping”. Acho interessante a comparação e concordo com a afirmação.
Já aqui escrevi muitas vezes que a melhor forma de combater o doping é descriminaliza-lo. Por paradoxal que pareça à primeira vista, o insucesso do programa anti-dopagem fica demonstrado de cada vez que um atleta é apanhado (se todos tomarem as mesmas coisas, deixa de fazer sentido tomá-las e serão sempre os melhores a ganhar). Lembro-me sempre do desabafo de Joaquim Agostinho de uma das vezes que acusou positivo: “tomo o que todos tomam…” disse aos jornalistas. E disparou: “Vão lá vocês subir os Alpes a comer bife e batatas fritas”.

Claro que as coisas estão hoje muito mais refinadas do que no tempo de Agostinho. Lance Armstrong só foi apanhado muitos anos depois de começar a dopar-se, mas Mohammed Hanzab também diz que “o match fixing utiliza tecnologia muito desenvolvida”…

Se a questão do doping ficaria resolvida com a sua despenalização, já quanto à fixação de resultados sou de opinião diferente. Caso contrário, o Futebol passaria a ser exclusivamente um espetáculo, ao melhor estilo da Luta (Wrestling), totalmente desprovido da componente competitiva e em que os espetadores se deslocam aos estádios sabendo antecipadamente quem vai vencer.

Além da sua beleza estética, foi a incerteza dos resultados que fez com que o Futebol se tenha afirmado como modalidade desportiva capaz de arrastar milhões. Se é certo que as melhores equipas ganham mais vezes, as equipas teoricamente mais fracas utilizam as armas que têm e, muitas vezes, acabam por conseguir vitórias heróicas. E disso, a história está repleta de exemplos, desde a eliminação do Sporting dos Cinco Violinos por um Tirsense da III Divisão, ao Campeonato da Europa ganho por uma mão cheia de dinamarqueses em férias. Retirar aos adeptos a incerteza do resultado, porque este é previamente decidido por alguém, é matar o Futebol.

Sem comentários:

Enviar um comentário