terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pata na poça no funeral de Eusébio

Enquanto símbolo maior de Portugal, Eusébio foi utilizado como nenhum outro pelo antigo regime. Nesse particular, só Amália Rodrigues esteve perto do patamar a que o Estado Novo alcandorou o Pantera Negra.

Tal como antes do 25 de abril, também o atual regime utilizou a imagem de Eusébio após a sua morte. As cerimónias fúnebres prolongaram-se uma quase eternidade e, nos momentos mais marcantes, lá estava, sempre, uma “alta individualidade”: O Presidente da República, a Presidente da Assembleia da República, o Primeiro-Ministro, sozinhos ou em conjunto, mais do que “estar lá”, não perderam a oportunidade para proferir palavras a glorificar o antigo jogador do Benfica e da Seleção portuguesa de cada vez que a Comunicação Social lhes pedia.

Enquanto herói de um povo, Eusébio merece todos os elogios – não merece é que se sirvam dele. Veja-se o caso do luto nacional que o Governo declarou “oficialmente”. O Executivo esqueceu que o luto de um Povo não se decreta. Sente-se.

No meio da enorme comoção, duas pessoas puseram a “pata da poça”: Assunção Esteves e Mário Soares. O antigo Presidente da República, a quem a avançada idade não deve desculpar tudo, referiu-se a Eusébio como uma pessoa “sem cultura” e que “bebia muito whisky”. É de lamentar que uma figura tão culta como o Dr. Mário Soares não se tenha lembrado de mais nada para dizer. A não ser, claro, que ele próprio não estivesse sóbrio.

Quanto a Assunção Esteves, nem a idade serve de explicação para a tolice. É verdade que a presidente da Assembleia da República até já está reformada (recebe, diz a Imprensa, uma reforma mensal de 7,255 euros por dez anos de trabalho como juíza do Tribunal Constitucional), mas tem apenas 57 anos. Interrogada sobre a possibilidade de os restos mortais de Eusébio irem para o Panteão Nacional, a eminente senhora hesitou, inflacionou os números, e disse que era preciso pensar muito bem nisso porque essa possibilidade exigia despesas na ordem das “centenas de milhares de euros”. Ora, os custos de transladação podem nem chegar aos 50 mil euros. No caso de Esteves, pode ter sido a reforma a toldar-lhe as ideias.

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