Durante anos, parecia haver uma maldição sobre quem saía da
Académica. Recordo apenas dois casos de jogadores que quiseram voltar e viram
as portas fechar-se: João Tomás, academista confesso, tinha o sonho de terminar
a carreira no seu clube. Fez várias tentativas para voltar, mas a direcção nunca
acedeu às suas pretensões. E todos sabemos como teria dado jeito, em certas
ocasiões, ter alguém na área, com faro pelos golos, como tinha o João Tomás que
é, certamente, o ponta-de-lança português mais goleador da última década.
Outro exemplo dessa “maldição” era o próprio Nuno Piloto.
Tal como João Tomás, o médio foi formado na Académica, onde, inclusivamente,
tirou um curso superior. Não devemos engar-nos ao dizer que deve ter sido o
último jogador profissional da Académica a obter o “canudo”. Depois de uma
época em Chipre – onde se lesionou com gravidade – Piloto quis regressar e
ligou a um alto dirigente da Académica a quem deu conta disso. “Espera um
telefonema nosso”, ter-lhe-ão dito. A chamada nunca aconteceu.
Por ter sido um dos últimos jogadores-estudantes e, além
disso, ter sido capitão de equipa, quando regressou pela primeira vez a
Coimbra, ao serviço do Olhanense, Nuno Piloto foi longamente saudado pela
Mancha Negra, aos gritos de “salta, Nuno, salta, Nuno, olé”. Deve pois ter sido
com agrado que a massa adepta da Briosa recebeu a notícia de que o seu antigo
jogador tinha voltado a casa. Eu, pelo menos, fiquei muito contente com isso: é
um símbolo da Académica, uma referência da mística coimbrã como
não havia outro no plantel desde há quatro anos. E a Académica precisa de quem
perpetue essa mística, porque já não há manos Campos, nem Gervários, nem
Rochas, nem Pedros Romas, nem outros, que foram terminando as suas carreiras sem
haver sucessores. O último tinha sido precisamente Nuno Piloto.
Não me interessa o quanto vale Nuno Piloto como jogador.
Como referência da mística da Académica, eu promovia-o automaticamente a
capitão de equipa.
Sem comentários:
Enviar um comentário