quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A improbabilidade matemática

Gosto da expressão “vale o que vale”. Qualquer coisa vale o que vale. Qualquer coisa pode ser avaliada em mais do que aquilo que vale, mas “vale o que vale”. Tudo vale o que vale. As opiniões, por exemplo, valem o que valem, independentemente de quem as emite. A opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, confiada a Judite de Sousa, vale o que vale. A opinião de José Sócrates, também vale o que vale. Como a de Marques Mendes, que também vale o que vale. Todas elas valem o que valem, podem é ser vistas (ou ouvidas) com mais ou menos crédito. Como as sondagens, também por exemplo.

Gosto de ler os resultados de sondagens, quando feitas por casas que merecem crédito. Não gosto de “consultas”, apresentadas sob a forma de sondagens, feitas por programas de televisão ou jornais através de linhas telefónicas de valor acrescentado. Essas não são consultas nem nem sondagens, apenas um negócio que, à imagem de outros, já teve, acredito, dias melhores.

O Record, jornal desportivo que compro habitualmente, tem dois espaços cotidianos em que apresenta resultados percentuais a perguntas que dirige aos leitores. No espaço “Opinião pública”, normalmente publicado na página dois, os leitores são convidados a votar na página de internet do jornal. Normalmente, vejo os resultados, por uma questão de curiosidade, mas não lhes atribuo qualquer crédito. No espaço Televoto, normalmente publicado na antepenúltima página, os leitores são convidados a votar, coisa que podem fazer a troco 0,60 Euro por chamada (mais IVA, calculado à taxa legal de 23 por cento). E pode-se votar quantas vezes quisermos, se possível muitas, dirão os acionistas da Cofina, proprietária do Record. Normalmente também vejo estes resultados, mais ainda lhes atribuo menos crédito do que à consulta on-line.

Vejamos, de dias recentes, resultados publicados pelo Record e que me intrigam. Sexta-feira passada, o jornal publicava que à pergunta “Slimani é uma boa aposta para o ataque do Sporting?”, houve 100 por cento de respostas “Sim” e zero por cento de respostas “Não”. No dia seguinte, ficou a saber-se que à pergunta “O Benfica fez bem em reintegrar Cardozo?”, houve 100 por cento de respostas “Sim” e zero por cento de respostas “Não”. No domingo, o resultado repetiu-se, sem qualquer alteração, tal como aliás aconteceu na segunda-feira.

Ora, sendo uma possibilidade matemática, é altamente improvável que durante três dias, numa sondagem de opinião “séria” ninguém tenha querido utilizar o número de valor acrescentado que o Record pôs a disposição de todos para “dizer” que não queria ter Óscar Cardozo no Benfica. Ou que, antes disso, tenha aproveitado para “dizer” que o Sporting tinha metido o pé na argola ao contratar Slimani. O que coloca em causa, naturalmente, a seriedade do jornal.

Das duas, três: ou o Record adultera a votação dos seus leitores, coisa em que, sinceramente eu não acredito, ou o número de votantes-pagantes é de tal forma diminuto e tão pouco representativo que não vale a pena o jornal estar a apresentar aqueles resultados. A terceira possibilidade é que a alta improbabilidade matemática se tenha tornado realidade. E logo por duas vezes!

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