segunda-feira, 8 de abril de 2013

Corrigir um erro com um disparate

Sejamos claros: estou – obviamente – contra o alargamento de 16 para 18 clubes que a Liga aprovou na sua Assembleia-Geral de sábado. No atual quadro competitivo e na conjuntura económica e financeira que prevalece desde há alguns anos, qualquer alargamento do principal campeonato português é um rotundo disparate

Nada disto colide com a pretensão da Liga de reintegrar o Boavista na I Liga. Ao que parece, as aspirações dos axadrezados são legítimas e a sua concretização constituiria a reparação de um erro cometido pelas altas instâncias da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes. Tudo bem, dou isso de barato. Se o clube foi prejudicado e punido injustificadamente, faça-se-lhe agora justiça.

O que me parece discutível é a forma encontrada para corrigir o erro. Em primeiro lugar porque parte-se do princípio de que o Boavista reúne os pressupostos financeiros exigidos pela Liga a todos os clubes. Como é de amplo conhecimento público, o clube do Porto tem tido enormes dificuldades para conseguir inscrever jogadores e formalizar a sua própria inscrição na II Divisão. Será que o consegue agora, quando está em causa a I Liga?

Bem, admitamos que sim, que o Boavista consegue. Alguém pode garantir que cada um dos restantes 16 clubes apurados desportivamente para disputar o campeonato também o conseguirá? Sempre a julgar pelas notícias que têm sido publicadas pela Imprensa, isso não é um dado adquirido. Olhanense, Vit. Setúbal, Beira-Mar e o próprio Sporting, que goza, pela sua dimensão, de um estatuto social diferente, têm sido dados como exemplos de clubes cujos jogadores têm – ou tiveram – salários em atraso. Se algum destes clubes, ou outros, claro, for impedido, por razões burocráticas, de participar na Liga, então o Boavista ocupar-lhe-ia o lugar sem necessidade de haver alargamento, que seria, sempre, o último recurso.

Por outro lado, questiono com ainda mais veemência o alargamento mesmo na circunstância de o Boavista não conseguir reunir os tais pressupostos financeiros. O que, a acontecer, tornaria ridícula a decisão de reintegrar um clube que não beneficia da reparação da injustiça de que foi alegadamente vítima, mas que beneficia terceiros que não têm nada – nada, mesmo – a ver com o assunto.
A Liguinha que foi proposta, e que integrará os dois últimos classificados da I Liga com os dois clubes da II Liga que estejam em condições de disputar a subida (além daqueles que subirão automaticamente), vai disputar-se no formato de eliminatória – a duas mãos? a uma só? em campo neutro? – e deve apurar um clube, que será o décimo-oitavo para perfazer número par, com o Boavista. Mas até pode apurar dois, mesmo que um deles seja derrotado num jogo, ou num par de jogos, a eliminar.

Em resumo: tudo bem em corrigir um erro. Mas não se corrige um erro com um disparate. E o disparate aqui é não acautelar a possibilidade de o campeonato continuar com 16 clubes caso o Boavista – ou outro qualquer, como vimos – não conseguir consumar a sua inscrição por motivos burocrático-financeiros. Haja o que houver, o próximo campeonato terá 18 equipas (falta o ok, da FPF), com a agravante de não ter ficado prevista qualquer redução no número de clubes futuramente.



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