Sejamos claros: estou – obviamente – contra o alargamento de
16 para 18 clubes que a Liga aprovou na sua Assembleia-Geral de sábado. No
atual quadro competitivo e na conjuntura económica e financeira que prevalece
desde há alguns anos, qualquer alargamento do principal campeonato português é
um rotundo disparate
Nada disto colide com a pretensão da Liga de reintegrar o
Boavista na I Liga. Ao que parece, as aspirações dos axadrezados são legítimas
e a sua concretização constituiria a reparação de um erro cometido pelas altas
instâncias da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes. Tudo bem,
dou isso de barato. Se o clube foi prejudicado e punido injustificadamente,
faça-se-lhe agora justiça.
O que me parece discutível é a forma encontrada para corrigir
o erro. Em primeiro lugar porque parte-se do princípio de que o Boavista reúne os
pressupostos financeiros exigidos pela Liga a todos os clubes. Como é de amplo
conhecimento público, o clube do Porto tem tido enormes dificuldades para
conseguir inscrever jogadores e formalizar a sua própria inscrição na II
Divisão. Será que o consegue agora, quando está em causa a I Liga?
Bem, admitamos que sim, que o Boavista consegue. Alguém pode
garantir que cada um dos restantes 16 clubes apurados desportivamente para
disputar o campeonato também o conseguirá? Sempre a julgar pelas notícias que
têm sido publicadas pela Imprensa, isso não é um dado adquirido. Olhanense,
Vit. Setúbal, Beira-Mar e o próprio Sporting, que goza, pela sua dimensão, de
um estatuto social diferente, têm sido dados como exemplos de clubes cujos
jogadores têm – ou tiveram – salários em atraso. Se algum destes clubes, ou outros,
claro, for impedido, por razões burocráticas, de participar na Liga, então o
Boavista ocupar-lhe-ia o lugar sem necessidade de haver alargamento, que seria,
sempre, o último recurso.
Por outro lado, questiono com ainda mais veemência o
alargamento mesmo na circunstância de o Boavista não conseguir reunir os tais
pressupostos financeiros. O que, a acontecer, tornaria ridícula a decisão de
reintegrar um clube que não beneficia da reparação da injustiça de que foi
alegadamente vítima, mas que beneficia terceiros que não têm nada – nada, mesmo
– a ver com o assunto.
A Liguinha que foi proposta, e que integrará os dois últimos
classificados da I Liga com os dois clubes da II Liga que estejam em condições
de disputar a subida (além daqueles que subirão automaticamente), vai
disputar-se no formato de eliminatória – a duas mãos? a uma só? em campo
neutro? – e deve apurar um clube, que será o décimo-oitavo para perfazer número
par, com o Boavista. Mas até pode apurar dois, mesmo que um deles seja
derrotado num jogo, ou num par de jogos, a eliminar.
Em resumo: tudo bem em corrigir um erro. Mas não se corrige
um erro com um disparate. E o disparate aqui é não acautelar a possibilidade de
o campeonato continuar com 16 clubes caso o Boavista – ou outro qualquer, como
vimos – não conseguir consumar a sua inscrição por motivos
burocrático-financeiros. Haja o que houver, o próximo campeonato terá 18
equipas (falta o ok, da FPF), com a agravante de não ter ficado prevista
qualquer redução no número de clubes futuramente.
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