terça-feira, 30 de abril de 2013

Matemática e Futebol

A apenas três jornadas do final da I Liga, há muita gente com a máquina de calcular nas mãos, a fazer contas à classificação e aos pontos que ainda falta ganhar. Os jornais tentam facilitar a vida e vão apresentando diversas possibilidades, mas as contas nem sempre são bem feitas, ou não fosse a Matemática um cancro no conhecimento de muitos de nós…

Algumas coisas podem ficar definidas já no próximo fim-de-semana, começando pelo título, mas só o Vit. Setúbal depende apenas de si próprio. Todas as outras equipas dependem de uma conjugação de resultados para assegurar o que quer que seja. Vejamos:

- Benfica – é campeão, desde que ganhe ao Estoril Praia e o F.C. Porto perca com o Nacional;

- F.C. Porto – deixa de lutar pelo título se perder com o Nacional e o Benfica ganhar ao Estoril Praia;

- Paços de Ferreira – garante o apuramento para a Liga dos Campeões se ganhar ao Sporting e o Sp. Braga empatar ou perder com o Moreirense;

- Sp. Braga – deixa de lutar pelo apuramento para a Liga dos Campeões se não ganhar ao Moreirense e o Paços de Ferreira ganhar ao Sporting;

- Estoril Praia, Rio Ave e Sporting – continuam a lutar pelo acesso à Liga Europa independentemente do resultado que fizerem nos seus jogos do fim-de-semana;

- Vit. Guimarães – já garantiu o Liga Europa, via Taça de Portugal;

- Marítimo e Nacional – ficam fora da corrida pela Liga Europa se perderem os seus jogos e, simultaneamente, o Estoril Praia vencer;

- Vit. Setúbal – garante a permanência se ganhar à Académica por 3-1 ou por qualquer outro resultado desde que com três golos de diferença;

- Gil Vicente – também garante a permanência se ganhar e pelo menos duas destas três equipas perderem: Moreirense, Olhanense e Beira-Mar;

- Académica – garante igualmente a manutenção em caso de vitória frente ao Vit. Setúbal e perderem duas destas equipas: Moreirense, Olhanense e Beira-Mar.

- Moreirense, Olhanense e Beira-Mar – nada ficará decidido, pouco importa os resultados que obtiverem.

Portanto, e em resumo, quer a questão do título, quer as dos acessos à Liga dos Campeões e à Liga Europa, só fica decidida sem uma conjugação de resultados, enquanto que a manutenção ficará resolvida, quando muito na jornada seguinte.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O trolha

A situação está longe de ser virgem, mas porque volta a acontecer deve ser denunciada. Desta vez é Emídio Rafael que é impedido de exercer a sua profissão e de dar seguimento à função para a qual foi contratado. Segundo a Imprensa, a razão do impedimento é o próprio contrato do jogador. Confuso? Nem por isso…

O Sp. Braga está a travar uma luta titânica com o Paços de Ferreira para assegurar um lugar na Liga dos Campeões do próximo ano. Na sexta-feira, os bracarenses viram o seu defesa-esquerdo Elderson ser expulso e muita gente pensou que, na próxima jornada, seria Emídio Rafael, habitualmente utilizado na equipa B, a substituir o habitual titular. Seria o regresso do português à equipa principal. Mas parece que isso é algo que não vai acontecer. Veja-se porquê.

Emídio Rafael foi contratado no mercado de Inverno, após duas lesões muito graves contraídas quando ainda era jogador do F.C. Porto. O vínculo tinha (tem) validade até ao final da presente temporada. Mas, talvez porque houvesse dúvidas quanto à sua recuperação plena, o contrato que assinou impunha um mínimo de 15 jogos para que a ligação fosse automaticamente renovada por mais três anos.

Emídio Rafael está a apenas duas partidas de atingir a dezena e meia e… garantir a renovação do contrato. Segundo o Record de hoje, esse é “um cenário que desagrada a António Salvador”, o presidente dos bracarenses. O mesmo jornal acrescenta que “por esse motivo, e sem que fosse dada qualquer explicação oficial, o jogador não foi convocado para o embate do Braga B com o Marítimo B”, que se jogou ontem. E, obviamente, não será utilizado na equipa principal, sendo vítima do próprio sucesso.

A história, que é tudo menos engraçada, faz-me lembrar a daquele trolha a quem foi prometida uma promoção e correspondente aumento salarial se construísse determinado muro num determinado tempo. “Está tudo aí. Tijolos, areia, cimento, é começar a trabalhar e quanto mais depressa acabares, mais depressa serás promovido” – disse-lhe o empreiteiro. O trolha começou a trabalhar e a obra seguiu a bom ritmo. Mas, muito antes do prazo terminar, quando o muro estava quase pronto e ele já se via promovido e a auferir salários principescos… acabaram-se os tijolos.

Qual é a pressa?

Tenho dúvidas que o Secretário-Geral do Partido Socialista, António José Seguro, tenha inspirado os competentes órgãos da Liga ou da FPF com a pergunta que o tornou famoso (“Qual é a pressa? Qual é a pressa? Qual é a pressa? Qual é a pressa?”, assim, dita e repetida três vezes - consecutivas - quando questionado sobre a data para que seria convocado o Congresso do Partido). Certo é que após os jogos do fim-de-semana faltam apenas quatro jornadas para o final da II Liga.

Num campeonato muito menos competitivo do que é habitual, ainda assim há muito para decidir:

- quem acompanha o Belenenses na subida à I Liga? Arouca, Leixões, Oliveirense, Portimonense, Desp. Aves e Santa Clara, ainda têm hipóteses, muito embora apenas matemáticas, para alguns deles?

- quem se qualifica para a disputa da eventual Liguinha para encontrar parceiro para o Boavista e completar o alargamento da I Liga? Além dos clubes supra indicados, também Tondela, Un. Madeira e Feirense podem ainda aspirar (matematicamente…) a entrar na liga principal pela porta pequena.

- quem desce? Também matematicamente, Desp. Feirense, Atlético, Naval, Sp. Braga B, Marítimo B, Trofense, Sp. Covilhã, Freamunde e Vit. Guimarães podem cair no Campeonato Nacional de Seniores que se disputará pela primeira vez na próxima época e que substitui a II Divisão B, que será extinta.

Está pois muita coisa em jogo e faltam só quatro jornadas. E com isto tudo, ainda falta saber o que vai acontecer – desportivamente falando – com o jogo Vit. Guimarães B – Sp. Braga B, da 29ª jornada, de que se disputaram apenas oito minutos sendo interrompido por falta de condições de segurança.

Creio haver cinco (!) possibilidades em aberto: o 0-0 que se registava aquando da interrupção pode vir a ser homologado, mas essa será, provavelmente, a possibilidade mais remota; o jogo pode vir a ser repetido na totalidade; o jogo pode vir a ser reatado, jogando-se o tempo remanescente (82 minutos, mais o eventual período de descontos); o Vit. Guimarães B pode vir a ser penalizado com a derrota e a vitória atribuída (3-0) ao Sp. Braga B; ambas as equipas podem ser penalizadas com derrota (0-3). Qualquer que seja a decisão das entidades que decidirão o caso, é inevitável que essa decisão terá impacto indelével na classificação.

A interrupção do Vit. Guimarães B – Sp. Braga B já motivou a imposição de multas (avultadas, diga-se de passagem) e a condenação dos vimaranenses em jogarem à porta fechada, pena já cumprida.
Ou seja: tão rápida foi a decisão de multar e de interditar o campo, como lenta está a ser a tomada de decisão – ou pelo menos a sua divulgação pública – quanto às consequências desportivas. Seria bom que, a bem da verdade desportiva, essa decisão fosse tomada e anunciada quanto antes e que ninguém se inspire em Seguro e pergunte “Qual é a pressa?”.

É disto que o meu povo gosta!

É disto que o meu povo gosta! A frase, que o saudoso Jorge Perestrelo gritava a plenos pulmões a cada vez que relatava um golo, bem pode aplicar-se num sentido mais lato: o povo gosta de Futebol e ama os seus clubes. É verdade que os dirigentes – Federação, Liga, Clubes – geriram mal o desenvolvimento da modalidade e a mudança de hábitos de vida da Sociedade, mas se dúvidas havia quanto à paixão do povo pela bola, elas terão sido desfeitas ontem, em quatro palcos.

Em Chaves, onde o Desportivo local disputava com o Ribeirão o acesso à II Liga, o Estádio Engº Branco Teixeira foi pequeno para receber tanta gente. Um banho de multidão, diz a imprensa de hoje. Em Viseu, houve festa no Estádio do Fontelo. O Académico, que no fim-de-semana anterior havia conquistado a subida, fez da última partida o jogo de consagração e recebeu o Anadia apoiado por sete mil espetadores, segundo rezam as crónicas. No Algarve, o Sp. Farense também subiu, porque bateu a Un. Leiria num desafio a que assistiram 14 mil pessoas. Finalmente, em Coimbra, Académica e Moreirense, que lutam por não descer, jogaram perante quase 13 mil pessoas.

Durante muito tempo inventaram-se desculpas para justificar o afastamento do público dos jogos de futebol. Ele era a televisão, ele era o desconforto e a insegurança dos estádios, ele era a má qualidade de jogo praticado. E ele era, finalmente, o preço dos bilhetes.

A todas essas razões eu acrescento mais duas: a mobilidade das pessoas e a oferta, mais alargada hoje de que antes. Hoje há muito para fazer, desde ir ao cinema até dar um passeio, porque toda a gente tem carro e as vias de comunicação levam-nos facilmente a qualquer lado. E os centros comerciais, que não existiam antigamente, atraem muita gente, mesmo que seja apenas para ver as montras.

Mas a razão fundamental, em minha opinião, é o preço dos bilhetes, aquilo em que os dirigentes podem “mexer” mais facilmente. Ponham os bilhetes mais baratos, como aconteceu ontem naqueles jogos e vão ver como os estádios voltam a encher, porque é de Futebol que o meu povo gosta.

sábado, 27 de abril de 2013

Presidenciável

A notícia vem na imprensa de hoje: o ex-futebolista João Vieira Pinto (Boavista, Benfica, Sporting, Sp. Braga, Seleção Nacional), que exerce atualmente as funções de dirigente da Federação Portuguesa de Futebol, vai concorrer à Junta de Freguesia de Campanhã nas próximas eleições autárquicas.

Sem por em causa a legitimidade do cidadão João Manuel Vieira Pinto de se candidatar a qualquer órgão autárquico, trata-se, na minha opinião, de mais um exemplo de promiscuidade entre a Política e o Futebol. Não se reconhece a João Vieira Pinto qualquer experiência em política autárquica ou em qualquer outra área que justifique a confiança dos eleitores através do voto. Não tenho dúvidas: o facto de ele ter sido atleta de eleição, o que o levou a representar muitas vezes a Seleção Nacional, não basta para se ser Presidente de Junta de Freguesia. Mais: tenho pena que uma pessoa com o seu currículo desportivo se sujeite a este tipo de jogadas político-partidárias.

João Vieira Pinto foi convidado por Luís Filipe Menezes, nomeado pelo PSD para concorrer à Câmara Municipal do Porto. A candidatura de Menezes, atual presidente da Câmara de Gaia, já foi alvo de um impedimento judicial, uma vez que o tribunal julgou favoravelmente uma ação interposta pelo Movimento Revolução Branca que pretende que os autarcas que já tenham cumprido três mandatos num concelho possam ser candidatos noutro concelho, contornando a lei de limitação de mandatos votada na Assembleia da República.

Apesar da determinação do Tribunal, Luís Filipe Vieira (tal como Fernando Seara, por exemplo, candidato pelo mesmo partido à Câmara de Lisboa) continua a agir como se nada fosse, fazendo tábua rasa da decisão da Justiça. De recurso em recurso, à velocidade a que a Justiça anda, não se sabe ainda se o candidato pode vir a apresentar-se efetivamante a votos. Mas isso são coisas para discutir noutros locais que não neste blog vocacionado para o Desporto e para o Futebol em particular. Aqui, o que interessa é o ex-futebolista João Vieira Pinto estar envolvido nestas coisas, que não contribuem com nada de positivo para a sua imagem. Eu não votaria nele, mesmo que se apresentasse a votos sob a bandeira do meu partido.

O Manel

A imprensa tem avançado nos últimos dias o despedimento de Manuel Fernades do Sporting. A notícia entristece-me.

Já se sabe que, ontem como hoje, a gratidão e o reconhecimento são palavras vãs para a grande maioria dos dirigentes clubísticos. Está agora a acontecer a Manuel Fernandes o que antes aconteceu a outras grandes figuras do clube de Alvalade – e de outros clubes também, claro. Lembremo-nos de Vítor Damas, por exemplo, a quem familiares e amigos mais próximos retiraram a bandeira sportinguista que cobria a urna em que foi a sepultar.

Cresci a admirar Manuel Fernandes. Pelos golos que marcava, claro, mas sobretudo por ter vestido a camisola do seu clube e mantê-la envergada mesmo quando foi proscrito uma primeira vez em Alvalade e passou a representar o Vit. Setúbal. A sua fidelidade ao Sporting manteve-se tal como se manteve – e creio ainda manter-se – o carinho dos adeptos que esses, na sua esmagadora maioria, não são ingratos.

Manuel Fernandes voltou e saiu do Sporting várias vezes, mantendo o seu sportinguismo intocável. Quando há meses regressou pela última vez, assumiu publicamente que se tratava de um sonho tornado realidade e acrescentou que gostaria de terminar a sua carreira – agora como dirigente – no clube a quem tantas vitórias deu.

A direcção de Bruno de Carvalho, recentemente eleita, quer varrer a casa, diminuir custos, viabilizar o clube financeiramente. Nada contra: o Sporting é – sempre foi – um grande clube e tudo deve ser feito para se lhe assegurar o futuro. Sobretudo por quem tem a legitimidade, adquirida nas urnas, para o fazer.

Mas o futuro do Sporting não depende certamente de Manuel Fernandes, que até terá demonstrado disponibilidade para passar a receber metade do vencimento que auferia. Eu não tenho dúvidas: se o Manel sair, o Sporting perde uma das suas maiores referências, fica mais pobre e, automaticamente, com menos possibilidades de assegurar a sua sobrevivência.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Sporting e os sportinguistas

Acompanhei, com a curiosidade e interesse que a dimensão do clube suscita, as recentes eleições para os corpos sociais do Sporting e, antes disso, a lenta agonia da Direção presidida por Godinho Lopes e as suas desavenças com o presidente da Assembleia-Geral, Eduardo Barroso.

Enquanto simples observador – e não adepto do clube – sempre que ouvia Eduardo Barroso perguntava-me como era possível ele fazer oposição sistemática à Direção sendo ele presidente da AG. Não pela oposição em si – que revela, obviamente, um enorme falta de solidariedade institucional – mas sobretudo pela forma como a fazia, qual comentadeiro de programa televisivo e sem a elevação que deveria exigir-se a alguém que ocupa o cargo de presidente da Assembleia Geral de um clube como o Sporting.

As eleições aconteceram e eu pensei que o clima de guerrilha atenuasse um pouco. E talvez isso tenha acontecido durante uns dias. Mas foi sol de pouca dura, como se pode ver pelas declarações de Carlos Barbosa, vice-presidente na direção de Godinho Lopes. Falando à Rádio Renascença, o ex-dirigente não esteve com meias medidas e disse que "os sócios do Sporting elegeram um garoto para presidente”. E acrescentou: “anda muito excitado, aos pulos quando o Sporting marca, mas não tem capacidade para gerir um clube. Vai durar mais um ou dois meses”.

Embora claramente dirigidas a Bruno de Carvalho, as declarações de Carlos Barbosa representam, também e sobretudo, a passagem de um atestado de menoridade aos sócios do Sporting que o elegeram. E isso não me parece aceitável, seja lá quem for Carlos Barbosa.

Durante anos, disse-se que o Sporting tinha os melhores adeptos do Mundo. Não sei dizer quando é que isso deixou de acontecer, mas a verdade é que com adeptos destes nenhum clube precisa de inimigos.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Corrigir um erro com um disparate

Sejamos claros: estou – obviamente – contra o alargamento de 16 para 18 clubes que a Liga aprovou na sua Assembleia-Geral de sábado. No atual quadro competitivo e na conjuntura económica e financeira que prevalece desde há alguns anos, qualquer alargamento do principal campeonato português é um rotundo disparate

Nada disto colide com a pretensão da Liga de reintegrar o Boavista na I Liga. Ao que parece, as aspirações dos axadrezados são legítimas e a sua concretização constituiria a reparação de um erro cometido pelas altas instâncias da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes. Tudo bem, dou isso de barato. Se o clube foi prejudicado e punido injustificadamente, faça-se-lhe agora justiça.

O que me parece discutível é a forma encontrada para corrigir o erro. Em primeiro lugar porque parte-se do princípio de que o Boavista reúne os pressupostos financeiros exigidos pela Liga a todos os clubes. Como é de amplo conhecimento público, o clube do Porto tem tido enormes dificuldades para conseguir inscrever jogadores e formalizar a sua própria inscrição na II Divisão. Será que o consegue agora, quando está em causa a I Liga?

Bem, admitamos que sim, que o Boavista consegue. Alguém pode garantir que cada um dos restantes 16 clubes apurados desportivamente para disputar o campeonato também o conseguirá? Sempre a julgar pelas notícias que têm sido publicadas pela Imprensa, isso não é um dado adquirido. Olhanense, Vit. Setúbal, Beira-Mar e o próprio Sporting, que goza, pela sua dimensão, de um estatuto social diferente, têm sido dados como exemplos de clubes cujos jogadores têm – ou tiveram – salários em atraso. Se algum destes clubes, ou outros, claro, for impedido, por razões burocráticas, de participar na Liga, então o Boavista ocupar-lhe-ia o lugar sem necessidade de haver alargamento, que seria, sempre, o último recurso.

Por outro lado, questiono com ainda mais veemência o alargamento mesmo na circunstância de o Boavista não conseguir reunir os tais pressupostos financeiros. O que, a acontecer, tornaria ridícula a decisão de reintegrar um clube que não beneficia da reparação da injustiça de que foi alegadamente vítima, mas que beneficia terceiros que não têm nada – nada, mesmo – a ver com o assunto.
A Liguinha que foi proposta, e que integrará os dois últimos classificados da I Liga com os dois clubes da II Liga que estejam em condições de disputar a subida (além daqueles que subirão automaticamente), vai disputar-se no formato de eliminatória – a duas mãos? a uma só? em campo neutro? – e deve apurar um clube, que será o décimo-oitavo para perfazer número par, com o Boavista. Mas até pode apurar dois, mesmo que um deles seja derrotado num jogo, ou num par de jogos, a eliminar.

Em resumo: tudo bem em corrigir um erro. Mas não se corrige um erro com um disparate. E o disparate aqui é não acautelar a possibilidade de o campeonato continuar com 16 clubes caso o Boavista – ou outro qualquer, como vimos – não conseguir consumar a sua inscrição por motivos burocrático-financeiros. Haja o que houver, o próximo campeonato terá 18 equipas (falta o ok, da FPF), com a agravante de não ter ficado prevista qualquer redução no número de clubes futuramente.



domingo, 7 de abril de 2013

Acabar com a brincadeira

A Imprensa relata que o pacense Vítor “forçou” a sua expulsão nos minutos finais do Marítimo – Paços de Ferreira. A amostragem, pela segunda vez, do cartão amarelo – e respetivo vermelho – obriga o médio a cumprir um jogo de suspensão na partida que a sua equipa vai disputar contra o Benfica, para a segunda mão da Taça de Portugal. Em contrapartida, “limpa-lhe” a folha e permite-lhe defrontar o Rio Ave na próxima jornada do Campeonato, prova em que o Paços de Ferreira está envolvido no acesso à Liga dos Campeões do próximo ano. 

A situação não é, como se sabe, virgem. Razão de sobra para já se ter encontrado forma de a evitar, uma vez que, claramente, ela constitui uma maneira de contornar os regulamentos. E os regulamentos, foram feitos para ser respeitados e não para serem contornados.

Uma sugestão: que qualquer tentativa para, deliberadamente, “obrigar” um árbitro a agir disciplinarmente e, com isso, contornar os regulamentos, seja punida com cartão vermelho direto, por atitude anti-desportiva, a que corresponderiam, sempre, dois jogos de suspensão.

As brincadeiras, acho eu, acabariam depressa.

Não admira...

A Naval foi condenada pela FIFA à subtração imediata de 12 pontos na classificação por manter dívidas antigas a dois clubes brasileiros a quem contratou jogadores. As dívidas ascendem a 480 mil euros.

A precária situação financeira do clube é do conhecimento de todos, sendo de estranhar que tenha conseguido reunir os pressupostos que lhe permitem continuar a disputar o campeonato da 2ª Liga. Já em dezembro, vários futebolistas rescindiram contrato por salários em atraso (Tozé Marreco, Roberto, João Pedro e Bruno Di Paula, nomeadamente), mas o clube conseguiu contratar e inscrever outros a quem, pelo menos a julgar pelo que é publicado na Imprensa, também não paga. Recorde-se, aliás, que os jogadores fizeram um pré-aviso de greve que foi entretanto desconvocada por ter sido acionado o fundo de solidariedade.

É justo que os clubes que não respeitem os seus compromissos, quer com jogadores – salários, prémios e outras regalias – quer com outros clubes – direitos de formação, etc – sejam punidos. E a punição desportiva, através da retirada de pontos, da descida de divisão ou mesmo da cessação da atividade competitiva em escalões profissionais é eventualmente aquela que pode ter um maior efeito dissuasor sobre os prevaricadores.

A decisão agora tomada pela FIFA é final e vinculativa e terá sido já transmitida à FPF a quem compete notificar a Liga. Espanta é que as dívidas em causa sejam referentes à contratação de jogadores (Rodrigo Café e Felipe Brochieri) que fizeram parte do plantel na época de 2007/08. Desconheço quando os clubes credores levaram o caso à atenção da FIFA, mas desde a época em que aqueles brasileiros jogaram na Naval passaram cinco anos. 

Outra coisa a sublinhar: Rodrigo Café jogou 20 minutos no campeonato; Felipe Brochieri, jogou 12. Um pouco caro para justificar 480 mil euros. Com negócios destes, não admira a débil tesouraria da Naval…

Crédito e descrédito

Depois do Vit. Guimarães, coube agora ao Leixões ser punido pelo Conselho de Justiça da F.P.F. com um jogo à porta fechada. Desta vez, o motivo da pena deve-se a comportamentos racistas de adeptos leixonenses no encontro que opôs a equipa de Matosinhos ao Belenenses (11ª jornada da 2ª Liga).

Independentemente da justiça da pena (o clube vai interpor recurso para os tribunais civis), sobre a qual não me pronuncio, quero sublinhar – como já aqui o fiz em diversas ocasiões – a lentidão da justiça desportiva. Desde o jogo em questão, passou mais de uma volta e o Leixões já foi ao Restelo retribuir a visita do Belenenses numa partida em que, como a Comunicação Social noticiou, ficou igualmente marcada por atos de indisciplina e confrontos verbais e físicos entre adeptos de ambos os clubes.

A lentidão com que este tipo de casos é tratado é de bradar aos céus. Contrariamente ao que acontece com a “justiça civil”, onde alguns processos se arrastam durante tantos anos que até prescrevem, a “justiça desportiva” só faz sentido se for feita num curto espaço temporal. Não faz sentido, por exemplo, um clube ser punido numa época desportiva por acontecimentos registados em época desportiva anterior, uma vez que devido ao sistema de subidas e descidas de divisão, os concorrentes de cada clube divergem de ano para ano. E estes podem, obviamente, beneficiar das penas aplicadas ao primeiro.

Seria bom que a justiça desportiva fosse, pois, mais lesta, assegurando contudo a todos os envolvidos os direitos de recurso de decisões tomadas em primeira instância.

No caso do Leixões, não se percebe – eu não percebo – o que pode justificar um atraso de tantos meses para anunciar o castigo. E isso descredibiliza os órgãos federativos que tomam estas decisões e descredibiliza, em fim de contas, a própria justiça desportiva.

sábado, 6 de abril de 2013

Conflito de interesses

A poucas horas do Sporting-Moreirense, permanecem as dúvidas que tenho quanto ao papel que Augusto Inácio irá desempenhar no jogo. O embate é crucial para qualquer das equipas. Por um lado, os leões precisam dos três pontos para manter as suas esperanças de alcançar os lugares europeus; os cónegos, por outro lado, precisam de pontuar para sair da desconfortável posição em que se encontram.

É inegável o bom trabalho que Inácio tem feito no Moreirense. Com a sua chegada, a equipa amealhou 11 pontos em oito jogos e abandonou as posições de descida. Contudo, à luz do que tem acontecido nas últimas semanas, não consigo deixar de por em causa o seu profissionalismo. Senti-me “desconfortável” ao vê-lo em Alvalade, pronto a votar para a presidência do Sporting. Augusto Inácio deslocou-se a Lisboa enquanto sócio do Sporting, é verdade, mas o facto de treinar, simultaneamente, outro clube (da mesma divisão) enquanto vota para a presidência dos leões é, no mínimo, estranho.

Tudo isto seria perfeitamente ultrapassável, não fosse Bruno de Carvalho, novo presidente leonino, ter escolhido Inácio como “homem-forte” para o futebol do Sporting, posto que passará a desempenhar a partir da próxima época. Estou convencido de que embora oficialmente isso seja verdade, oficiosamente não o é. Desengane-se quem pensa que o ainda treinador do Moreirense não tem voto na matéria quanto ao que se passa actualmente em Alvalade. Inácio tem dado entrevistas, comentado transferências e situações que só aos leões dizem respeito, tudo isto enquanto desempenha funções em Moreira de Cónegos.

No lugar de Bruno de Carvalho, e partindo do princípio que Augusto Inácio é o homem certo para o cargo, havia apenas uma de duas coisa a fazer: contratar Inácio, desde que este se demita do cargo de treinador do Moreirense ou, na pior das hipóteses, anunciar a sua decisão no final da época. Que seriedade tem o Sporting e a sua direcção quando o seu director desportivo treina outra equipa? A situação em Moreira de Cónegos é semelhante, apesar de mais delicada. Os bons resultados obtidos recentemente colocam o presidente Vítor Magalhães numa posição difícil, já que não se pode dar ao luxo de fazer trocas na fórmula vencedora que Inácio descobriu.

Esclarecidas as posições de Bruno de Carvalho e de Vítor Magalhães, é Augusto Inácio quem fica mal na fotografia. O seu profissionalismo fica em causa, bem como o seu discernimento. Que papel irá então desempenhar no jogo? Que dirá aos seus jogadores na palestra antes do jogo? Irá ser o vilão, ao “roubar” pontos ao futuro clube e patrão, ou “fazer o jeito” ao perder o jogo? De qualquer das formas, não se livrará deste tipo comentários e suspeitas, que podem vir tanto de um lado como do outro.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Bater com a porta

Dias Ferreira, o irreverente representante do Sporting no “Dia Seguinte”, bateu com a porta e decidiu abandonar o programa após uma discussão com o moderador. Não assisti ao programa e muito menos procurarei na net o “condensado” da acontecência. Não me interessam e, por isso, raramente vejo esse tipo de programas em que os canais televisivos chamam para comentadores adeptos que são figuras públicas que, as maior parte das vezes passam o tempo a ridicularizar-se e a acusarem-se mutuamente. É um espetáculo que considero degradante e de mau gosto, que não dignifica o Desporto e opto, portanto, por outras ocupações.

Por isso acho piada à afirmação de Dias Ferreira de “passa bem sem o programa e o programa passa bem sem ele”.

Se há alguém que passa bem sem uma coisa e outra, eu sou um deles.