É sabido, o título é aquilo que, em primeira análise, pode
levar um leitor a ler uma notícia ou artigo de jornal. Ou é suficientemente
forte para provocar a leitura ou o leitor passa à frente e nem sequer lê o
primeiro parágrafo. É elementar, apesar de ser também estudado nas
universidades e haver livros específicos sobre a matéria.
O Record de ontem dedicou as páginas centrais, espaço nobre
de qualquer jornal, a uma entrevista com Miguel Lopes, o defesa-direito que o
Sporting emprestou ao Lyon e que, há dias, fraturou uma perna. O jornal, que
divide a entrevista em várias partes, escolheu para título da peça principal
uma declaração do jogador: “Vou fazer tudo para recuperar”.
O Futebol habituou-nos, sobretudo nos últimos dez-quinze
anos, a frases desprovidas de qualquer conteúdo: “são onze contra onze”, “a
bola é redonda”, “perdemos o jogo mas ganhamos uma equipa”, “já não há
adversários fáceis”, “temos de levantar a cabeça”, “o grupo de trabalho é forte”
são apenas uma pequeníssima amostra das banalidades que os jornalistas
transcrevem diariamente e que emergiram desde que os clubes decidiram
regulamentar internamente o contacto dos seus profissionais com os
profissionais da Comunicação Social.
Se o jornalista não pode “inventar” declarações dos seus
entrevistados e tem de limitar-se a transcrever o que lhe dizem, não é menos
verdade que, no decurso de uma entrevista deverá haver alguma declaração com
mais “sumo” de que uma simples banalidade. Se não houver, é porque a entrevista
– ou conferência de imprensa, se for o caso – é desprovida de interesse.
Pergunto: que jornal publicaria uma entrevista cujo conteúdo
pudesse resumir-se a um “vou fazer tudo para recuperar” proferido por um
jogador lesionado? Estranho seria e, então, merecedor de manchete, se o mesmo
jogador dissesse “pouco me importo, quero lá saber se recupero, vou mas é
deixar correr a vida”. Um pouco como o caso do cão que morde o homem ser uma
não-notícia. Já se for o homem a morder o cão…
Enfim, acredito que o Jornalismo em Portugal – e, se calhar,
no resto do Mundo também – está a passar por uma profunda crise e a necessitar
de grandes profissionais que saibam escrever mas que saibam, sobretudo,
contar-nos histórias, daquelas que ouvíamos quando eramos pequenos e que nos
provocavam emoções. Quando assim voltar a ser, a imprensa em geral e a desportiva
em particular terá muito mais qualidade. Quanto aos títulos, seria aconselhável
a leitura, por exemplo, de “Foi Você que Pediu um Bom Título?”, livro de Dinis
Manuel Alves publicado em 2003 pela Quarteto. Uma conferência com o mesmo nome,
dada pelo autor no Instituto Superior Miguel Torga em 2006, está disponível no
Youtube.
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