Durante muitos anos, lutou-se, em Portugal, pela chamada “liberdade
de imprensa”. Reconquistada formalmente com o 25 de abril, data a partir da
qual os jornais deixaram de estar sujeitos ao Exame Prévio (eufemismo com que
Marcelo Caetano rebatizou a Censura Prévia, instituída em 1926 e consagrada em
1933), a liberdade de informar tem encontrado ao longo dos anos formas subtis
de censura. Na maioria das vezes, a censura é velada e exercida sob a forma
comercial de não subsidiar, através da compra de espaços publicitários,
determinados jornais.
Deixemos clara uma coisa: sou totalmente contra qualquer
censura de imprensa. Para mim, essa é a regra zero, a mais importante de todas.
Mas, deixo também claro que o Jornalista não pode escrever o que lhe vem à
cabeça.
É que o Jornalista tem um peso social grande que lhe vem do
papel que exerce: informar para formar. E essa é uma regra que alguns têm
tendência a esquecer. Veja-se um exemplo:
Retirado do Record de ontem, num pequeno artigo não assinado,
pude ler que “No último jogo do Paços, Carlão entrou a render Buval ainda antes
do fim da 1ª parte, andou em campo a pastar, foi assobiado e acabou por ser substituído
perto do fim (…)”.
Sinceramente não me parece deontologicamente correto – já para
não falar numa questão, ainda mais básica, de boas maneiras, que também se
fazem sentir pela linguagem que se utiliza – que se diga que um jogador andou a
pastar. Essa é uma linguagem eventualmente aceitável como desabafo na boca de
um adepto, mas absolutamente descabida num artigo jornalístico.
Esperei pelo jornal de hoje por um eventual – e improvável –
pedido de desculpas do jornalista ou mesmo, porque não?, do Diretor do Jornal.
Se esse pedido de desculpas, dirigido ao jogador visado e ao Leitor, tivesse
ocorrido, não estaria agora a escrever estas linhas. Mas estamos numa sociedade
em que parece cada vez mais difícil as pessoas pedirem desculpas pelo que fazem
ou pelo que dizem… Ao contrário, parece cada vez mais fácil dizer-se –
impunemente – o que se quer. No caso concreto do jornalista do Record, seria
bom que não esquecesse o ditado popular segundo o qual “quem diz o que quer
ouve o que não quer”.
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