segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Censura e liberdade de imprensa

Durante muitos anos, lutou-se, em Portugal, pela chamada “liberdade de imprensa”. Reconquistada formalmente com o 25 de abril, data a partir da qual os jornais deixaram de estar sujeitos ao Exame Prévio (eufemismo com que Marcelo Caetano rebatizou a Censura Prévia, instituída em 1926 e consagrada em 1933), a liberdade de informar tem encontrado ao longo dos anos formas subtis de censura. Na maioria das vezes, a censura é velada e exercida sob a forma comercial de não subsidiar, através da compra de espaços publicitários, determinados jornais.

Deixemos clara uma coisa: sou totalmente contra qualquer censura de imprensa. Para mim, essa é a regra zero, a mais importante de todas. Mas, deixo também claro que o Jornalista não pode escrever o que lhe vem à cabeça.

É que o Jornalista tem um peso social grande que lhe vem do papel que exerce: informar para formar. E essa é uma regra que alguns têm tendência a esquecer. Veja-se um exemplo:

Retirado do Record de ontem, num pequeno artigo não assinado, pude ler que “No último jogo do Paços, Carlão entrou a render Buval ainda antes do fim da 1ª parte, andou em campo a pastar, foi assobiado e acabou por ser substituído perto do fim (…)”.

Sinceramente não me parece deontologicamente correto – já para não falar numa questão, ainda mais básica, de boas maneiras, que também se fazem sentir pela linguagem que se utiliza – que se diga que um jogador andou a pastar. Essa é uma linguagem eventualmente aceitável como desabafo na boca de um adepto, mas absolutamente descabida num artigo jornalístico.

Esperei pelo jornal de hoje por um eventual – e improvável – pedido de desculpas do jornalista ou mesmo, porque não?, do Diretor do Jornal. Se esse pedido de desculpas, dirigido ao jogador visado e ao Leitor, tivesse ocorrido, não estaria agora a escrever estas linhas. Mas estamos numa sociedade em que parece cada vez mais difícil as pessoas pedirem desculpas pelo que fazem ou pelo que dizem… Ao contrário, parece cada vez mais fácil dizer-se – impunemente – o que se quer. No caso concreto do jornalista do Record, seria bom que não esquecesse o ditado popular segundo o qual “quem diz o que quer ouve o que não quer”.

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