A profissionalização da arbitragem ao mais alto nível é o assunto
em grande destaque na edição do dia do Record. Ao longo de três páginas – que prometem
prolongamento, amanhã – o jornal divulga as bases gerais do estudo de
viabilidade levado a cabo por uma multinacional de consultoria, contratada pela
Federação Portuguesa de Futebol.
O que retive de mais importante foram três coisas: o
aumento, em cerca de um milhão de euros relativamente à atualidade, do custo da
arbitragem; a remuneração proposta para os árbitros; e, finalmente, a ideia de
deixar de haver promoções e despromoções na categoria mais alta, que se
chamaria Elite.
Como já aqui escrevi variadíssimas vezes, não sou um
especialista em Futebol e sou-o ainda menos em Arbitragem. Sou apenas um adepto
da modalidade. E é enquanto adepto que pasmo com a proposta que tem, promete
dizer o Record na sua edição de amanhã, parece merecer a aprovação de 68 por
cento dos árbitros que “aceitam o profissionalismo por mais de 30 mil euros”.
Sinceramente, penso que a Federação Portuguesa de Futebol
deveria preocupar-se com outras prioridades. A perda constante de adeptos e a
diminuição, também constante, no número de praticantes federados deveria, a meu
ver, constituir primazia para as altas instâncias do Futebol. Há Associações
distritais com dificuldade em organizar as suas competições devido à falta de
clubes e, a esse nível, a situação não é mais dramática devido à criação do
Campeonato Nacional de Seniores e consequente abolição da antiga III Divisão
Nacional.
O principal argumento que tenho lido ou ouvido em favor da
profissionalização dos árbitros diz que o Futebol envolve hoje tão elevadas
verbas que não faz sentido os jogos serem dirigidos por amadores. Contesto este
argumento desde logo porque tenho dúvidas em chamar “amador” alguém que ganha
tão bem como um árbitro de primeira categoria, mesmo se a sua remuneração não é
feita sob a forma de salário mas sim como prémios, ajudas de custo e outras
mordomias.
Acima dessa, elevo contudo outro razão para não concordar
com a profissionalização: mesmo tornando-se profissionais, os árbitros não
deixam de ser humanos e, logo, sujeitos a errarem. Tal como acontece com o avançado
que falha um “golo feito” ou com o guarda-redes que “abre a capoeira”. É
verdade que, ao contrário destes, cujos erros prejudicam as próprias equipas,
as falhas dos árbitros penalizam terceiros, mas também sei – todos nós sabemos,
não é verdade? – que os primeiros falham muito mais do que os segundos. E são
profissionais.
Por outro lado, parece-me claramente pornográfica a
possibilidade de um árbitro ganhar 72.000 euros ano. No estado atual da
economia, é obsceno falar-se destes valores. Ponto.
Finalmente, não posso concordar que deixe de haver
despromoções. Em toda a prática desportiva de competição está subjacente que
haja um prémio para quem tem mais mérito e um “castigo” para quem tem mais “demérito”.
O projeto defendido pela FPF prevê apenas a possibilidade de “despedimento”
caso o árbitro não cumpra critérios mínimos de performance. Um pouco como se
dissessem aos 16 clubes da I Liga que não desceriam de divisão caso atingissem
os 30 pontos, por exemplo. Ora isso não é possível, porque há equipas
(árbitros, neste caso) que estando um patamar abaixo pretendem atingir o topo,
tendo aí a grande motivação para desempenharem a sua atividade.
Muito mais – muito, muito mais mesmo – haveria para dizer
sobre este assunto e a ele provavelmente voltarei em breve. Para já fico na expetativa
de ver na edição de amanhã a continuação do trabalho apresentado hoje pelo
Record.
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