terça-feira, 23 de julho de 2013

Pornografia e obscenidade

A profissionalização da arbitragem ao mais alto nível é o assunto em grande destaque na edição do dia do Record. Ao longo de três páginas – que prometem prolongamento, amanhã – o jornal divulga as bases gerais do estudo de viabilidade levado a cabo por uma multinacional de consultoria, contratada pela Federação Portuguesa de Futebol.

O que retive de mais importante foram três coisas: o aumento, em cerca de um milhão de euros relativamente à atualidade, do custo da arbitragem; a remuneração proposta para os árbitros; e, finalmente, a ideia de deixar de haver promoções e despromoções na categoria mais alta, que se chamaria Elite.

Como já aqui escrevi variadíssimas vezes, não sou um especialista em Futebol e sou-o ainda menos em Arbitragem. Sou apenas um adepto da modalidade. E é enquanto adepto que pasmo com a proposta que tem, promete dizer o Record na sua edição de amanhã, parece merecer a aprovação de 68 por cento dos árbitros que “aceitam o profissionalismo por mais de 30 mil euros”.

Sinceramente, penso que a Federação Portuguesa de Futebol deveria preocupar-se com outras prioridades. A perda constante de adeptos e a diminuição, também constante, no número de praticantes federados deveria, a meu ver, constituir primazia para as altas instâncias do Futebol. Há Associações distritais com dificuldade em organizar as suas competições devido à falta de clubes e, a esse nível, a situação não é mais dramática devido à criação do Campeonato Nacional de Seniores e consequente abolição da antiga III Divisão Nacional.

O principal argumento que tenho lido ou ouvido em favor da profissionalização dos árbitros diz que o Futebol envolve hoje tão elevadas verbas que não faz sentido os jogos serem dirigidos por amadores. Contesto este argumento desde logo porque tenho dúvidas em chamar “amador” alguém que ganha tão bem como um árbitro de primeira categoria, mesmo se a sua remuneração não é feita sob a forma de salário mas sim como prémios, ajudas de custo e outras mordomias.

Acima dessa, elevo contudo outro razão para não concordar com a profissionalização: mesmo tornando-se profissionais, os árbitros não deixam de ser humanos e, logo, sujeitos a errarem. Tal como acontece com o avançado que falha um “golo feito” ou com o guarda-redes que “abre a capoeira”. É verdade que, ao contrário destes, cujos erros prejudicam as próprias equipas, as falhas dos árbitros penalizam terceiros, mas também sei – todos nós sabemos, não é verdade? – que os primeiros falham muito mais do que os segundos. E são profissionais.

Por outro lado, parece-me claramente pornográfica a possibilidade de um árbitro ganhar 72.000 euros ano. No estado atual da economia, é obsceno falar-se destes valores. Ponto.

Finalmente, não posso concordar que deixe de haver despromoções. Em toda a prática desportiva de competição está subjacente que haja um prémio para quem tem mais mérito e um “castigo” para quem tem mais “demérito”. O projeto defendido pela FPF prevê apenas a possibilidade de “despedimento” caso o árbitro não cumpra critérios mínimos de performance. Um pouco como se dissessem aos 16 clubes da I Liga que não desceriam de divisão caso atingissem os 30 pontos, por exemplo. Ora isso não é possível, porque há equipas (árbitros, neste caso) que estando um patamar abaixo pretendem atingir o topo, tendo aí a grande motivação para desempenharem a sua atividade.

Muito mais – muito, muito mais mesmo – haveria para dizer sobre este assunto e a ele provavelmente voltarei em breve. Para já fico na expetativa de ver na edição de amanhã a continuação do trabalho apresentado hoje pelo Record.

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