quinta-feira, 18 de julho de 2013

Jornais e jornalismo

Hoje, coisa rara, comprei dois jornais desportivos. Além do Record, minha compra habitual, comprei também o L’Équipe. A capa chamou-me a atenção, com uma fotografia fantástica de Christopher Froome, o inglês que se prepara para ganhar a Volta à França. A espectacularidade da imagem e a vontade de comparar um dos melhores jornais desportivos do mundo com os seus congéneres portugueses fez-me decidir pela compra.

O L’Équipe custa 1,10 Euro. Em termos absolutos, é mais caro 25 cents do que o Record, A Bola ou o Jogo. Importa no entanto referir que o salário médio mensal em França é de um pouco mais de 2.200 Euro, enquanto em Portugal é de apenas 870. Ou seja, proporcionalmente, o l’Équipe é muitíssimo mais barato. O jornal francês tem uma tiragem média de 380 000 exemplares (65 milhões de habitantes em França); proporcionalmente, o Record, tem uma tiragem média superior, com os seus 84 200 exemplares (Portugal tem 10,5 milhões de habitantes).

Se estas diferenças são facilmente mensuráveis, já a qualidade intrínseca das publicações o é menos. Correndo pois o risco de fazer uma análise subjetiva, aponto algumas diferenças que fazem pender os pratos da balança, claramente, para o L’Équipe.

- Qualidade das fotografias. Ao que parece, o L’Équipe continua a investir em repórteres fotográficos, ao contrário do que acontece com os jornais portugueses, que se limitam a comprar imagens de agências. Um bom exemplo disso mesmo foi dado ontem, quando A Bola, Jogo e Record publicaram na capa imagens idênticas de Rui Costa a ganhar a sua etapa do Tour. Inquestionavelmente, as fotos eram diferentes em milésimos de segundo, mas foram tiradas pelo mesmo fotógrafo, pela mesma câmara, do mesmo ângulo.

- Qualidade da informação. No L'Équipe, a reportagem do Tour, evento desportivo com maior número de seguidores em todo o mundo, é assegurada por nada menos de oito redatores e pelo menos três repórteres de imagem. Os jornais portugueses não têm nenhum enviado especial a seguir a prova, apesar de nela estarem presentes dois ciclistas portugueses. Resultado: oito páginas de reportagem super-interessantes no L’Équipe, com informação completa sobre a prova (incluindo classificação de todos os ciclistas na etapa e na geral). O Record apresenta duas páginas e tem de recorrer à página pessoal de Rui Costa no Facebook para transcrever “declarações” do ciclista português. Quanto a Sérgio Paulinho, nem uma palavra, apenas a sua inclusão nas classificações de etapa e geral.

- Diversidade de conteúdos. No Record, onze chamadas de capa: nove para assuntos relacionados com o Futebol e dois para assuntos extra-desporto, com a despedida de Alexandre Pais do cargo de diretor do jornal e a Miss Fanática 2012/13. Além do Futebol, portanto, nenhuma referência a qualquer outra modalidade desportiva. No L’Équipe, quatro quintos da capa vão para a tal fotografia de Christopher Froome, mas ainda há espaço para o Atletismo e para o Futebol, além de uma chamada para uma entrevista com o ator Bud Spencer.

O L’Équipe apresenta-se em dois cadernos de oito páginas cada. O primeiro é inteiramente dedicado à Volta a França. No segundo caderno, destaque de capa para a Vela, Rugby e o Taekwondo. No interior, notícias sobre Ténis, Golfe, Atletismo, Equitação, Natação, Hóquei no Gelo, Automobilismo, Motociclismo, Tiro com Arco, Basquetebol, Futebol (três páginas), Voleibol e a já mencionada entrevista com Bud Spencer.

No caso do Record, 26 das 32 páginas da edição do dia, são dedicadas ao Futebol, por enquanto ainda sem competições a decorrer. Com mais duas páginas dedicadas ao “Verão”, uma ao “Jogo da Vida” e outra à “Miss Fanática”, resta pouco espaço para se falar das modalidades ditas “amadoras”.

Não tenho dúvidas: Portugal até pode vender, proporcionalmente, mais jornais desportivos do que a França, mas a qualidade do L’Équipe é muitíssimo superior à dos jornais portugueses.

2 comentários:

  1. Toni, não esquenta. Uns são profissionais e como tal agem. Outros são mercenários e o que visam é ganhar dinheiro fácil sem grandes investimentos. Garanto que o L'Équipe tem uma direção que visa mais o profissionalismo com qualidade e ética, que ganharem dinheiro sem grandes esforços. Então viva o L'Équipe, e abaixo a imprensa marron.

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  2. Revista,

    Obrigado pelo comentário.

    São de facto duas formas diferentes de olhar o Jornalismo. OLhando apenas para a portuguesa, eu diria que é um pouco pacóvia. E quese exclusivamente virada para o Futebol. Depois de ter feito manchete com a vitória de Rui Costa na Volta à França na sua edição de sábado, a capa de Record de hoje só tem espaço para o Futebol. A contra-capa também. Nem um título, nem uma imagem, nem uma chamada para quelquer outra modalidade desportiva no dia que chega ao fim o Tour, evento desportivo anual mais seguido em todo o Mundo.

    Que pena!...

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